Correio Braziliense, n.21116 , 18/03/2021. Brasil, p.7

 

24 estados e DF perto do caos

Fabio Grecchi

18/03/2021

 

 

CORONAVÍRUS » São Paulo alcança 89% de ocupação dos leitos destinados à covid-19, mas a situação é crítica também para as vagas destinadas ao tratamento de outras doenças. Levantamento da Fiocruz alerta que país passa pelo "maior colapso sanitário e hospitalar da história"

São Paulo atingiu, ontem, a média móvel de 421 mortes diárias pelo coronavírus, a maior desde o início da pandemia no estado, número que leva em conta o saldo dos últimos sete dias. Nas últimas 24 horas, foram 617 óbitos pela doença e a ocupação em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) destinados à covid-19 chegou a 89%. A situação de São Paulo confirma aquilo que o Observatório Covid-19, elaborado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), constatou: que o Brasil passa pelo "maior colapso sanitário e hospitalar da história" e que 24 estados e o Distrito Federal estão com taxas de ocupação de leitos de UTIs iguais ou superiores a 80%.

Mas não são apenas as vagas destinadas aos infectados com o novo coronavírus que deixam São Paulo em situação crítica. A oferta dos leitos para terapia intensiva voltados para o tratamento de outras doenças também está próxima ao colapso — somadas às da covid-19, vão a 90,3%. De acordo com o secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, pelo menos 67 dos 105 municípios atingiram sua capacidade total. O estado já abriga 10.756 pacientes em UTIs.

São Paulo está na fase emergencial, a mais dura, desde segunda-feira. Durante coletiva de imprensa, ontem, o governador João Doria afastou a possibilidade de enrijecer ainda mais as medidas restritivas por ora, afirmando que essa decisão caberia à equipe Centro de Contingência da Covid-19. De acordo com o coordenador Paulo Menezes, ainda é necessário mais tempo para ver quais "resultados efetivos" serão alcançados com as medidas implementadas nesta semana.

Dados do governo paulista apontam que, ontem, o índice de isolamento no estado estava em 43%, apenas um ponto acima do registrado terça-feira. Desde o início da pandemia, o Centro de Contingência tem alertado que a meta seria a de elevar essa taxa aos 60%, com 70% sendo o número ideal.

"A situação é absolutamente crítica. De modo urgente, é fundamental ampliar e intensificar conjunto de medidas não-farmacológicas, com medidas de supressão ou bloqueio da transmissão e do uso de máscaras de proteção como principal medida de controle e redução do número de casos por covid-19, buscando reverter ou evitar colapsos no sistema de saúde, para reduzir drasticamente os níveis de transmissão e de casos e, consequentemente, o número de mortes evitáveis", propõe o monitoramento da Fiocruz.

Desastre

De acordo com o Observatório Covid-19, divulgado na terça-feira, no momento atual, são 24 estados e o Distrito Federal com taxas iguais ou superiores a 80% de ocupação de UTIs, sendo que, desses, 15 apresentam taxas iguais ou superiores a 90%. Em relação às capitais, 25 das 27 estão com percentuais de ocupação de leitos para adultos iguais ou superiores a 80% — 19 delas, além de 90%.

Comparando-se os números dos estados obtidos na última semana (08/03), verificou-se uma melhora em Roraima, onde a taxa de ocupação caiu de 80% (crítica) para 73% (alerta intermediário) e a volta do Pará à zona crítica (taxa de ocupação saltou de 75% para 81%). Além disso, cinco unidades da Federação que estavam na zona intermediária passaram à crítica: Amapá (90%), Paraíba (85%), Alagoas (84%), Minas Gerais (85%) e Espírito Santo (89%). Apenas o estado do Rio de Janeiro e Roraima permanecem na intermediária, embora muito perto de passar à fase crítica (veja mapa acima).

Nas capitais, o Observatório Covid-19 aponta as seguintes cidades como às portas do caos: Porto Velho (100%), Rio Branco (100%), Manaus (80%), Macapá (96%), Palmas (98%), São Luís (87%), Teresina (98%), Fortaleza (94%), Natal (95%), João Pessoa (93%), Recife (84%), Maceió (86%), Aracaju (90%), Salvador (87%), Belo Horizonte (93%), Vitória (95%), Rio de Janeiro (90%), São Paulo (91%), Curitiba (98%), Florianópolis (98%), Porto Alegre (103%), Campo Grande (88%), Cuiabá (100%), Goiânia (96%) e Brasília (97%) — Boa Vista apresenta taxa de 73% e Belém, de 72%.

"Este quadro absolutamente crítico resulta em impactos diretos e indiretos sobre a saúde da população e trabalhadores da saúde que vêm trabalhando na linha de frente de resposta à pandemia. Apesar de ocupação inferior a lotação máxima de 100%, vários locais apresentam filas de espera por leitos, o que configura situação de colapso no atendimento", alerta o Observatório.