Título: Queda traz o fantasma da deflação
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 09/12/2008, Economia, p. A16

Indicadores da Fundação Getúlio Vargas mostram que baixa logo chegará ao varejo

O arrefecimento da economia mundial, que vem resultando na queda dos preços de commodities industriais e agrícolas, deverá ser mais sentido pelo consumidor daqui para frente, segundo a inflação medida pelo Índice Geral de Preços ¿ Disponibilidade Interna (IGP-DI), que registrou forte desacelaração, segundo cálculo da Fundação Getúlio Vargas.

Para o economista da FGV Salomão Quadros, a deflação de 0,17% constatada no Índice de Preços no Atacado (IPA) em novembro logo chegará ao varejo, principalmente entre os alimentos, que ficaram 0,83% mais caros para o consumidor ¿ segundo pesquisa efetuada para cálculo do Índice de Preços ao Consumidor (IPC).

¿ A absorção de quedas é questão de tempo. Os alimentos serão os primeiros a ser impactados, já pode-se observar uma queda nonos preços por atacado ¿ afirmou Quadros.

O IGP-DI de novembro indicou forte desaceleração dos preços, com alta de apenas 0,07%, ante 1,09% registrado no mês de outubro.

Em queda

O resultado foi influenciado pela retração das commodities, que amorteceu o impacto da valorização do dólar. Diversos produtos que estavam em alta ao longo do ano têm agora trajetória de queda livre, na esteira da recessão que começa a atingir as principais economias do mundo.

¿ Houve uma queda forte e generalizada, tanto na fase intermediária quanto nos bens finais. O cenário internacional foi dominante, já que, mesmo com o câmbio em alta, houve deflação no IPA. A queda dos preços no mercado internacional tem sido mais forte ¿ observou Quadros.

A alta do dólar foi mais suave em novembro. Na comparação com outubro, a moeda americana ficou 4,30% mais cara. No mês anterior, a valorização tinha chegado a 20,74%, ante setembro.

Nova tendência

Com relação ao IPA, Quadros destacou a mudança de direção na variação dos preços de insumos industriais, que tiveram significativa alta em outubro, em função da variação do dólar. Foi o caso da celulose, que depois de elevação de 13,49% em outubro, subiu apenas 0,03% no mês passado. A borracha sintética ficou 3,58% mais barata em novembro, após subir 21,95% no mês anterior.

Entre os bens de consumos duráveis, os produtos eletrônicos influenciados pela moeda americana também foram menos pressionados, como a televisão, que teve queda de 2,38%, ante alta de 3,45% em outubro. O aparelho de DVD, que havia subido 1,28% em outubro, caiu 0,17% no mês passado.

Os derivados do petróleo já refletem o movimento da acentuada queda de preço do barril. A nafta ficou 28% mais barata em novembro. O QAV (querosene de aviação) teve retração de 0,51%, após alta de 8,51% em novembro. Já o óleo combustível ficou 7,54% mais barato.

Entre os alimentos no varejo, registraram queda matérias-primas como o trigo (-1,93%) e o milho (-6,99%). Alimentos processados como a carne bovina (-1,58%) e o arroz beneficiado (-3,09%) também tiveram deflação.

Para o consumidor, a inflação foi de 0,47%, com destaque para os alimentos, que chegaram 0,83% mais caros às prateleiras.

Salomão Quadros frisou que o movimento de queda nos preços não indica a iminência de um quadro recessivo na economia brasileira, e está basicamente vinculado ao cenário mundial. Para o economista, a desaceleração econômica no Brasil será mais gradativa do que em outros países.

Diante desse quadro, o economista da FGV aponta que o risco de inflação alta diminuiu, e ao mesmo tempo, aumenta a preocupação com um período recessivo. Por isso, considera que o momento de o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciar um movimento de queda dos juros está se aproximando.

¿ Aumentou o espaço para a taxa de juros cair ¿ concluiu Salomão Quadros.