O Globo, n. 31986, 04/03/2021. Mundo, p.20

 

 

 

 

Dianteira sinistra

 

 

Brasil e Europa puxam aumento global de casos na pandemia

 

NDRÉ DUCHIADE

andre.duchiade@oglobo.com.br

 

Brasil e Europa foram os responsáveis por puxar o aumento no número de casos de Covid-19 que elevou a média global na última semana. Apesar de representarem, somados, 12% da população mundial, Brasil e os países que compõem a região da Europa pela Organização Mundial da Saúde (OMS) concentraram 54% dos 2.658.823 novos casos de Covid em todo o globo.

Na última semana, o número de casos de Covid-19 subiu 7% depois de seis semanas completas em declínio. Na terça-feira, este aumento foi detalhado coma divulgação do boletim epidemiológico semanal da entidade, relativo à semana que se encerrou no dia 28 de fevereiro. O Brasil, sozinho, registrou 14% das novas infecções confirmadas, quando sua população representa apenas 2,8% da mundial. Na semana anterior, o país acumulava 12.8% dos novos casos globais.

BRASIL PRÓXIMO DOS EUA

Há outros lugares onde o vírus avança mais rapidamente neste momento — situação, por exemplo, da Argentina, onde o número de casos subiu quase 50% em uma semana —mas, em nenhum outro lugar, além de Brasil e de países europeus, o aumento percentualde infecções corresponde a uma alta tão vasta do número absoluto de casos.

Se não fosse pelo Brasil, por exemplo, a pandemia teria permanecido praticamente estagnada nas Américas na última semana epidemiológica: aumentando só 0,5%, pouco mais de 5 mil casos. Em função do Brasil, no entanto, o crescimento foi de 6% — houve um acréscimo de 62.939 casos nas Américas em comparação coma semana anterior, e, só no Brasil, o aumento foi de 57.733.

O crescimento no número de casos no Brasil o aproxima dos Estados Unidos, que seguem sendo o país mais afetado do planeta, com 472.904 novos casos, ou 17,7% do total. O índice de novos casos, contudo, tem decrescido por lá. Se os ritmos dos dois países se mantiverem, o Brasil poderia ultrapassar os EUA em número absoluto de casos em duas semanas.

O crescimento no número de casos no Brasil o aproxima dos Estados Unidos, que seguem sendo o país mais afetado do planeta, com 472.904 novos casos, ou 17,7% do total. O índice de novos casos, contudo, tem decrescido por lá. Se os ritmos dos dois países se mantiverem, o Brasil poderia ultrapassar os EUA em número absoluto de casos em duas semanas.

Ao comentar os resultados na segunda-feira, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que o aumento nos casos foi “decepcionante, mas não surpreendente”, e disse que outras medidas de combate ao vírus além da vacinação devem ser mantidas em vigor.

— Era muito cedo para os países dependerem apenas dos programas de vacinação e abandonarem outras medidas — afirmou. — Estamos trabalhando para entender melhor esses aumentos na transmissão. Mas parte disso parece ser devido ao relaxamento das medidas de saúde pública, à circulação contínua de variantes e às pessoas baixando aguarda. As vacinas ajudarão a salvar vidas, mas se os países dependerem apenas das vacinas, estarão cometendo um erro.

A OMS apresenta como possíveis razões para os aumentos globais, sem diferenciar por região, a “propagação contínua de mais variantes transmissíveis ”, o“relaxamentode medidas sociais e de saúde pública” e a “fadiga em torno da adesão” a essas medidas. Para se contrapor a estas medidas, a organização recomenda que governos adotem métodos de “rastreamento de casos, isolamento, quarentena com suporte e cuidados de qualidade”. Para os indivíduos, a organização propõe “evitar multidões, distanciamento físico higiene das mãos, máscaras e ventilação”.

A Europa registrou 40% das novas infecções globais segundo a OMS. Os 1.055.781 novos casos no continente corresponderam a um crescimento de 9%, e foram o primeiro aumento desde a semana que se encerrou em 10 de janeiro. Trinta e seis dos 61 países e territórios presentes na região “Europa” de classificação da OMS —que inclui, por exemplo, Israel, Kosovo e Gibraltar —registraram alta. Os piores foram a França, que teve 149.959 novos casos, e a Itália, com 112.029. Já a República Tcheca, com 82.321 novos casos, registrou o equivalente a 768 novos casos por 100 mil habitantes, um aumento de 26%.

Embora tenha concentrado o maior número absoluto de novos casos, a Europa nãoéa região onde o vírus se espalhou com mais velocidade. A OMS trabalha com seis ma-crorregiões: Américas, Europa, Sudeste Asiático, Mediterrâneo Oriental, África e Pacífico Ocidental. Destas, o Mediterrâneo Oriental —que inclui países do Oriente Médio e do Norte da África—teve o aumento percentual mais expressivo, de 14%. Apesar disso, este índice equivale a só 8% do total global. Os casos também subiram 9% no Sudeste Asiático, o equivalente a 6% do total mundial. Na África e no Pacífico houve queda.

A despeito do aumento de casos, o boletim da OMS registrou um declínio de 6% nas mortes. Isso pode acontecer porque os óbitos geralmente só acontecem algumas semanas após asinfecções. Iss os ainda pode demorar um pouco para esse aumento global de infecções se traduzir em vítimas fatais.

 

‘SITUAÇÃO MUITO DIFÍCIL’

Na terça-feira, o Brasil bateu recorde de mortes na pandemia, com 1.726 óbitos, e ontem bateu de novo, com 1.840 mortes. O país está há mais de 30 dias registrando mais de mil mortes diárias. Em entrevista coletiva, o epidemiologista Anthony Fauci, da forçatarefa da Casa Branca para o combate à Covid-19, se disse preocupado coma situação no Brasil.

—É uma situação muito difícil em que o Brasil se encontra. É muito difícil pelo fato de quem esmoco ma infecção do vírus original que estava circulando, isso não protege de fato contra reinfecções. A melhor coisa afaze ré vacinaras pessoa somais rápido possível, a maior quantidade possível — disse ele, em resposta a pergunta da correspondente Raquel Krähenbühl, da Globonews, colocando-se à disposição das autoridades brasileiras para discutir ações de contenção à pandemia.