Título: Dançar para não esquecer
Autor: Marcelo Nóbrega
Fonte: Jornal do Brasil, 31/01/2005, Internet, p. A20

Computador registra ritmos folclóricos em extinção e robô os reproduz com graciosidade Robôs dançarinos não são novidade e até já bailaram ao som de uma orquestra de autômatos. Mas o japonês Promet entra para a história como o preservador de uma cultura em extinção. O robô HRP-2 Promet, com 1,5 m de altura, lembra um personagem dos desenhos animados orientais. Ao lado de uma mulher com quimono, imita seus movimentos com graciosidade.

Dias antes, a dançarina estava usando um macacão com 30 bolas coloridas em suas articulações. Câmeras registraram seus movimentos, transmitidos depois ao computador, numa técnica semelhante à que Hollywood usa para criar os atores virtuais da série Matrix ou Guerra nas estrelas.

O software OpenHRP é alimentado com as informações. O programa simula, na tela do PC, os movimentos do Promet e seus efeitos.

O experimento da Universidade de Tóquio pretende criar um banco de dados de danças folclóricas do país, as jongara-bushi, como conta o doutorando Shinichiro Nakaoka, do Instituto de Tecnologia e Ciências Industriais Avançadas, em entrevista por e-mail ao JB.

- A Sra. Yamada, uma grande mestre da nossa dança, disse que os movimentos do Promet são suficientes para expressar a sua intenção. Ela ficou surpresa e entusiasmada - diz Nakaoka.

O robô não é perfeito. Os movimentos das pernas e da cintura são os mais complicados de imitar, explica o cientista. Para solucionar o problema, a dança foi dividida em ''movimentos primitivos'' e ''estilos''. Os primeiros são as intenções básicas do dançarino, contornadas pelos segundos, mais complexos.

- Ao separar a dança, conseguimos que o robô imite os movimentos para expressar as características das ações. Mas o hardware precisa ser modificado.

Ao contrário dos personagens de animação e atores virtuais, o Promet tem as limitações de sua estrutura.

O robô, no entanto, tem uma série de vantagens sobre outros mais conhecidos, como o Asimo, da Honda. Mesmo com seu 1,5 m, considerado alto entre os autômatos, ele consegue deitar e se levantar sozinho, inclinar seu torso e andar em caminhos mais estreitos que os concorrentes, pelo desenho das pernas.

Além da sua aplicação cultural, o Promet também é usado na construção civil. Com controle teleguiado, o robô pode guiar escavadeiras e outros veículos. Ele custa US$ 365 mil (R$ 985 mil) e foi criado em 2003 pelo instituto e a Kawada Industries.

A equipe da universidade, chefiada pelo professor de Engenharia Katsushi Ikeuchi, já realizou outros trabalhos de digitalização cultural, que envolveram o registro de estátuas de Buda, sítios arqueológicos e um templo no Cambodja.

- O trabalho com o Promet é complicado. Ele pode tropeçar com facilidade ao imitar os movimentos humanos - conta o professor.

Para Nakaoka, outros robôs bípedes podem reproduzir os movimentos digitalizados:

- O candidato precisa ter duas pernas e um hardware de alta qualidade, para garantir a velocidade e estilo necessários.

O cientista também é otimista em relação à aplicação da técnica para registrar outras danças no caminho da extinção.

- Elas devem ser lentas e não ter pulos ou deslizes dos dançarinos.

Mas, por enquanto, não há planos de disponibilizar o conjunto de danças digitalizadas para consulta na internet.