Título: Amadores espiam Titã
Autor: Marcelo Nóbrega
Fonte: Jornal do Brasil, 31/01/2005, Internet, p. A22

Com editor de imagem, internautas tratam fotos da lua antes das agências espaciais Depois de sete anos de viagem, a sonda espacial Cassini-Huygens presenteou os humanos com as primeiras imagens da superfície de Titã, a maior lua de Saturno, considerada a única com atmosfera no Sistema Solar. Para os astrônomos amadores e curiosos, o evento resultou numa oportunidade de analisar as fotografias com rapidez e alterá-las antes mesmo das agências espaciais. A empreitada é uma cooperação das agências espaciais européia, americana e italiana. E, pela primeira vez, a ESA (European Space Agency) resolveu liberar as imagens no formato bruto ao público, imitando o que acontecia na Nasa desde a missão Pathfinder, em 1997.

- Esse processo é habitual na comunidade open source. As pessoas modificam as imagens e publicam o resultado, que pode ser estudado e alterado por outros - conta Anthony Liekens, 29 anos, doutorando na Universidade de Tecnologia de Eindhoven, Holanda. Em sua homepage pessoal, o belga hospeda as modificações independentes mais interessantes.

- É claro que as agências espaciais podem fazer seu trabalho sem a nossa análise. Mas o trabalho dos amadores serve para que o público tenha contato com imagens mais ordenadas e coloridas, rapidamente. Funciona como uma propaganda - explica Liekens, em entrevista ao JB.

Grande parte do esforço publicado na homepage envolve a montagem das imagens para formar um mosaico da superfície de Titã. Outras fotografias foram coloridas.

O trabalho mais impressionante, curiosamente, é o menos preciso. Com a ajuda do software Terragen, para construção de paisagens, os internautas conseguiram criar ambientes 3D a partir das imagens 2D divulgadas pelas agências espaciais.

- Em termos científicos, elas não são precisas. Mas concordo que são as mais bonitas - diz Liekens.

A edição das outras fotos inclui o tratamento de contraste e brilho, a coloração a partir dos dados contidos na primeira imagem liberada pela ESA e a rotação e encaixe para criar os mosaicos.

- As imagens tratadas pela ESA e outras organizações serão sempre mais completas, já que eles usam dados científicos que não temos acesso - explica o cientista, que trabalha com algoritmos genéticos.

Não é a primeira vez que amadores buscam aperfeiçoar as imagens que chegam do espaço. Uma vertente polêmica do trabalho inclui os teóricos da conspiração, que buscam anomalias nas fotos esquecidas pelas agências espaciais e que sugeririam a vida extraterrestre. O grupo mais conhecido que busca esses indícios é o do site Enterprise mission.

- Conheço o projeto, mas acho que ele não passa de uma grande besteira - afirma Liekens.

4http://anthony.liekens.net/huygens_static.html

4www.enterprisemission.com