Título: Lula tenta consenso para reforma
Autor: Sérgio Pardellas e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 03/03/2005, País, p. A4

Ao desembarcar ontem em Brasília, depois de passar dois dias em Montevidéu, Uruguai, para a posse do presidente daquele país, Tabaré Vásquez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a conduzir pessoalmente as negociações para a reforma ministerial. Além da reunião com os ministros do núcleo político do governo, estão previstas para hoje conversas com o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador José Sarney (PMDB-AP). Até o fim da semana, Lula pretende ouvir representantes dos demais partidos da bancada governista. Ao avocar para si a coordenação política do governo, Lula, segundo ministros com assento no Palácio do Planalto, pretende dar o chamado ''freio de arrumação'' na cizânia interna a fim de concluir com serenidade as alterações na Esplanadas dos Ministérios previstas para a próxima semana.

Lula considera que a temperatura no governo extrapolou os limites do razoável nos últimos dias chegando ao seu ápice com a carga do PT pela saída de Aldo Rebelo (PCdoB) da Coordenação Política. Por isso, quer evitar sobressaltos na hora de consolidar o chamado governo de coalizão.

- Agora o presidente vai assumir pessoalmente a coordenação, dar um basta nessas disputas internas, ouvir o que falta ouvir dos aliados e decidir a reforma, algo que só ele pode fazer - disse um ministro.

Ontem, ainda em Montevidéu, Lula afirmou que pode anunciar a reforma ''qualquer dia'', mas ''sem nenhuma pressão e sem nenhuma pressa''.

- Todo mundo sabe que eu preciso começar a pensar nisso agora. Agora que acabaram as eleições na Câmara e no Senado, vou começar a pensar nisso, mas não tenho um dia preciso para anunciar. Pode ser a qualquer dia, só não posso dizer que será hoje porque não estou no Brasil - afirmou.

O líder do governo no Senado, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que acompanhou o presidente na viagem, confirmou que a reforma ampliará a participação dos partidos aliados no governo, diminuirá o quinhão do PT na Esplanada dos Ministérios e aumentar a eficiência da administração em algumas áreas.

Ontem, deputados petistas comentaram o desabafo do presidente Lula que estaria irritado com as pressões do PT e partidos da bancada governista às vésperas de mais uma reforma. Conforme publicou ontem o Jornal do Brasil, em conversas reservadas na última semana, Lula ameaçou não concorrer à reeleição em 2006 caso sejam criados obstáculos à consolidação do governo de coalizão.

- Concordo com o presidente. Esse tipo de pressão de bastidor é sempre ruim. O PT sempre defendeu a política clara e ética. Não esse estilo de ficar tentando puxar o tapete - disse o deputado Chico Alencar (PT-RJ).