Correio Braziliense, n.21118 , 20/03/2021. Cidades, p.13

 

 

Crise se agrava e restrições continuam

Samara Schwingel

20/03/2021

 

 

Com taxa de transmissão de 1,01 no DF, governador Ibaneis Rocha (MDB) prorroga decreto que fecha comércio até o dia 28 e mantém toque de recolher. Ao Correio, chefe do Executivo local afirmou que não faltam insumos na rede pública e pede ajuda da sociedade

Após três dias com a taxa de transmissão da covid-19 abaixo de 1, o Distrito Federal registrou nova alta do índice, que chegou a 1,01. Com o aumento do indicador, 98% de ocupação dos leitos públicos em unidades de terapia intensiva (UTIs) e uma fila de espera com 230 pessoas, o governador Ibaneis Rocha (MDB) optou por prorrogar a validade das medidas restritivas. O toque de recolher e o fechamento de atividades consideradas não essenciais, que teriam fim na segunda-feira, passam a valer até o próximo dia 28.

Apesar da decisão de prorrogar as medidas restritivas, o governador deve liberar, a partir de 29 de março, algumas atividades. Segundo o novo decreto, publicado em edição extra do Diário Oficial do DF de ontem, o horário geral de funcionamento do comércio será das 11h às 20h. Porém, para evitar a circulação de muitas pessoas em um mesmo horário, o decreto traz exceções.

Shoppings centers e centros comerciais funcionarão das 13h às 21h. O grupo de salões de beleza, barbearias, esmalterias e centros de estética, das 10h às 19h. Bares e restaurantes, das 11h às 19h. Academias de esporte, das 6h às 21h, mantendo o protocolo existente. Clubes recreativos, das 6h às 21h; agências de viagens, operadores turísticos e serviços de reservas e atividades de organizações associativas, escritórios e profissionais autônomos de contabilidade, engenharia, arquitetura e imobiliárias, das 10h às 19h.

As atividades coletivas de cinema e teatro poderão abrir sem restrição de horário, mas deverão limitar a lotação em 50% da capacidade. Eventos em estacionamentos e drive-in não terão restrição de horário, e competições esportivas profissionais seguem proibidas de terem público ou treinamentos para elas. As demais atividades deverão funcionar conforme o alvará. Os estabelecimentos que já funcionavam sem restrições de horários, como supermercados e farmácias, seguem autorizados, sem mudanças.

Apesar da expectativa, na tarde de ontem no Palácio do Buriti, durante coletiva, o secretário da Casa Civil, Gustavo Rocha, pediu colaboração da população. "Se as pessoas continuarem não observando as regras, haverá um aumento dessas taxas e a consequência vai ser que o governador decidirá pela não abertura das atividades na semana seguinte", disse. Ele reforçou que a flexibilização não vai interferir no toque de recolher das 22h às 5h, em vigor desde 8 de março. "Os dados demonstram que ter evitado aglomerações e festas clandestinas resultou em uma diminuição dos casos. Por isso, mesmo com certa flexibilização, o toque de recolher continuará", completou.

Taxa de transmissão

Segundo o secretário de Saúde Osnei Okumoto, o ideal é que a taxa de transmissão do coronavírus esteja abaixo de 1. "Por três dias consecutivos tivemos o índice de 0,99. A gente necessita da compreensão de todos para que o decreto tenha efeito", afirmou, durante a coletiva de ontem. Segundo a secretaria, a taxa, que chegou a 1,38 e caiu para 1,12 apenas cinco dias depois da restrição de atividades no DF.

Para o professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB) Mauro Sanchez, a decisão do GDF foi acertada. "Não estamos, ainda, em uma posição confortável no sistema de saúde em relação ao número de leitos e a vacinação não atingiu uma cobertura alta. Não era o momento para realizar uma flexibilização", comentou. O especialista afirma que a economia não pode ser deixada de lado, mas que, neste momento, a saúde é mais importante. "Sem tirar a importância das atividades econômicas, mas, em um momento crítico, é preciso ter medidas duras. Infelizmente, ainda é necessário ter medidas restritivas", considerou.

Ontem, por volta das 16h, de acordo com o portal InfoSaúde da Secretaria de Saúde, a ocupação de leitos públicos de UTI adultos para o tratamento da covid-19 chegou a 98,92%. O Hospital Regional da Asa Norte (Hran), referência para o tratamento da doença, atingiu 100% de ocupação dos leitos adultos. No mesmo período, havia 230 pessoas com suspeita ou confirmação de infecção pelo novo coronavírus aguardando por um leito. "A ampliação de leitos é importante, mas, para se pensar em uma reabertura, é preciso que haja leitos disponíveis, que a vacinação esteja avançando bem e que a taxa de transmissão esteja baixa", disse Sanchez.

Fiscalização

Além das restrições de horário, também continuará proibida a venda de bebidas alcoólicas após as 20h. O descumprimento das medidas pode resultar em multa de até R$ 20 mil, de acordo com a gravidade da situação constatada pela fiscalização e os valores podem se acumular. No caso de aglomerações, poderá ser aplicada multa individual de até R$ 1 mil em cada uma das pessoas participantes do evento ou da reunião e de R$ 4 mil para o estabelecimento.

A fiscalização das normas continuará sendo exercida por uma força tarefa, sob coordenação da Secretaria de Segurança Pública e com apoio da Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal); Diretoria de Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado de Saúde (DIVISA/SES); Secretaria de Transporte e Mobilidade (SEMOB); Corpo de Bombeiros; Polícia Militar e Civil; Instituto de Defesa do Consumidor(Procon); Departamento de Trânsito do Distrito Federal Detran); Brasília Ambiental; Secretaria da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri); Departamento de Estradas de Rodagens; e Diretoria de Fiscalização Tributária da Secretaria de Estado de Economia.

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Entrevista - Ibaneis Rocha: "A população pode nos ajudar"

José Carlos Vieira

20/03/2021

 

 

Em entrevista ao Correio, o governador Ibaneis Rocha fez um balanço desse um ano da decretação do lockdown que fez parar a cidade em 2020. “É preciso continuar o trabalho, e precisamos que a população faça sua parte, se prevenindo, evitando principalmente as aglomerações”, destacou. Reconheceu também que muita gente tem passado necessidade. “Por isso estamos reforçando a nossa rede de atendimento social”, disse. Sobre medicamentos e insumos, o governador garantiu que há controle do estoque permanentemente e não estão faltando remédios ou luvas. “Nós vamos inclusive começar a instalar cinco usinas de oxigênio nas unidades hospitalares nos próximos dias.”

Há um ano o senhor decretava um lockdown amplo, qual sua avaliação dessa medida para evitar o colapso na saúde? O que deu certo e o que faria de outra forma hoje?

O objetivo inicial foi alcançado. Durante todo o período nenhum paciente ficou sem atendimento no Distrito Federal, mesmo nos momentos de pico da doença, mas a chegada das novas cepas, mais virulentas, provocou uma nova crise, que estamos combatendo mais uma vez com o aumento no número de leitos e restrição de circulação. Isso vem dando resultado, mas é preciso continuar o trabalho, e precisamos que a população faça sua parte, se prevenindo, evitando principalmente as aglomerações.

Há possibilidade de o GDF ampliar a testagem de pessoas?

A testagem já está no nível ideal, segundo os técnicos da Secretaria de Segurança. O importante neste momento é reduzir a taxa de transmissibilidade, ainda muito alta entre nós, o que só vai ser conseguido com a menor circulação na cidade. É difícil, muita gente tem passado necessidade e, por isso, estamos reforçando a nossa rede de atendimento social. A população pode nos ajudar, doando alimentos a quem mais precisa, buscando reduzir essas dificuldades.

A contaminação acelerada das novas variantes não justificaria mais restrição na circulação de pessoas?

Todo mundo sabe o perigo que é a covid-19. Os noticiários não falam em outra coisa, contam histórias tristes, chocantes, dão exemplos de pessoas que estão morrendo por falta de ar. Essa questão da restrição deveria ser uma tomada de consciência. O governo faz a parte dele, mas não é possível proibir tudo, como não é possível fiscalizar tudo. A sociedade também tem que fazer sua parte.

A compra de insumos para o tratamento da covid-19 será reforçada?

Não estão faltando insumos no Distrito Federal. Mas temos controlado o estoque permanentemente. Nós vamos inclusive começar a instalar cinco usinas de oxigênio nas unidades hospitalares nos próximos dias.