Correio Braziliense, n.21118 , 20/03/2021. Cidades, p.14

 

Remessas com data marcada

Ana Isabel Mansur

José Carlos Vieira

Renato Souza

20/03/2021

 

 

CORONA VÍRUS » Executivo local espera receber, a partir de agora, vacinas enviadas pelo Ministério da Saúde com frequência definida e constante. Novas doses, que chegarão amanhã, permitirão imunizar pessoas com 70 e 71 anos, além de agentes públicos da linha de frente

Com 6,33% da população vacinada, segundo dados divulgados na quinta-feira pelo Portal Coronavírus Brasil, o Distrito Federal deve começar a receber novos lotes de vacinas contra a covid-19. Desta vez, em intervalos programados. Essa é a expectativa do governador Ibaneis Rocha (MDB), que falou sobre o tema, em entrevista ao Correio, ontem. "Temos a informação que, a partir de agora, os lotes serão constantes", disse o chefe do Executivo local.

Ibaneis acrescentou que uma nova remessa de doses chegará amanhã, o que permitirá ampliar o público-alvo da campanha para idosos com 70 e 71 anos, além de servidores públicos que trabalham nas ruas, como policiais e agentes de assistência social. Na quinta-feira, o governador havia dito que a capital federal deve receber entre 70 mil e 80 mil unidades do Ministério da Saúde. No segundo dia de atendimento a pessoas com 72 e 73 anos, ontem, a Secretaria de Saúde (SES-DF) vacinou 5.188 pessoas com a primeira dose, e 832 com o reforço. No total, o DF tem 193.359 pessoas que receberam ao menos a primeira dose; dessas, 68.875 (35,6%) tomaram as duas.

Ontem, a SES-DF registrou 47 mortes por covid-19, o segundo maior número de notificações para um dia desde o início do ano. Desse total, 43 ocorreram em um intervalo de uma semana. As outras quatro vítimas morreram entre 22 de dezembro e 24 de fevereiro. Com isso, o total de mortes na capital federal chegou a 5.321, e, com 1.507 novos casos confirmados, a quantidade de pessoas infectadas ficou em 326.083.

A média móvel de mortes aumentou 110,4% em relação a 5 de março — duas semanas atrás — e chegou a 34,3 — o maior registro do ano. Já o indicador referente aos casos cresceu 32% na comparação com o resultado de 14 dias atrás, marcando 1.651,7.

Cenário de guerra

Profissionais que atuam no front na área de saúde enfrentam uma situação desoladora. No domingo, um funcionário do Hospital Regional do Gama (HRG) denunciou o cenário caótico da unidade, onde faltavam vagas, pontos de oxigênio, bombas de infusão e ventiladores mecânicos — itens essenciais para o tratamento de pacientes em estado grave. O relato dava conta de que havia pontos de oxigênio compartilhados por até três pessoas.

O desabafo do profissional somou-se a outros, de servidores do Hospital Regional de Planaltina (HRPl). Eles relatam que, na quinta-feira, em razão da quantidade de pacientes internados com covid-19, o suprimento de oxigênio que sai dos tubos da unidade de saúde foi cortado. Para evitar mortes de quem estava internado, as equipes tiveram de usar o estoque de cilindros das viaturas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

A região de Planaltina, que tem mais de 200 mil habitantes, não tem leitos fixos de UTI. No entanto, uma estrutura foi improvisada no centro cirúrgico do HRPl para receber pacientes que apresentam graves problemas respiratórios em razão da doença. No entanto, o avanço da segunda onda da pandemia pressionou um sistema de saúde que já era precário.

Pacientes se acumulam em leitos de UTI, nos corredores do hospital e, a todo tempo, chegam mais doentes em busca de atendimento. Segundo os servidores, o perfil dos pacientes é cada vez mais jovem. A queda no fornecimento de oxigênio piorou a situação, que, por pouco, não gerou uma tragédia ainda pior. "O desespero maior é da equipe. Estamos trabalhando sabendo que fazemos acima do normal, algo muito além do que achávamos que daríamos conta. Quando o pessoal começou a perceber que a pressão do oxigênio estava caindo, houve angústia. Não chega a ser um desespero, mas uma ansiedade para resolver (o problema) sem causar danos ao paciente, que depende do oxigênio", disse uma das servidoras que presenciaram a cena e preferiu não se identificar.

Ela acrescentou que o cenário no único hospital de Planaltina é desolador. "Quem está trabalhando com pacientes com covid-19 trabalha sob pressão. A capacidade está estourada. As pessoas não estão conseguindo atendimento. É preciso entender que elas devem ficar em casa, usar máscaras, lavar as mãos, usar o álcool em gel. Assim, em 15, 20 ou 30 dias vamos reduzir a hospitalização", ressaltou.

A reportagem apurou que a demanda está tão elevada, que dois postos de saúde da cidade ficarão abertos no sábado para atender pacientes. Procurada pelo Correio, a direção do HRPl, por meio da SES-DF, informou que houve uma "queda momentânea na pressão dos tubos de oxigênio" e que a situação foi resolvida. "A direção salienta que todas as providências foram tomadas, e a situação, normalizada, sem que tenha havido qualquer consequência grave para as pessoas em atendimento no hospital. Em uma ação conjunta de diversos profissionais da Secretaria de Saúde do DF, as duas empresas fornecedoras de oxigênio foram convocadas para solucionar rapidamente o problema da unidade, além do Samu, que disponibilizou mais cilindros de oxigênio", informou a direção do hospital.