Correio Braziliense, n.21118 , 20/03/2021. Cidades, p.17

 

Os dias em que o DF parou

Edis Henrique Peres

20/03/2021

 

 

Primeiro 'lockdown' na capital do país completa um ano: 365 dias depois, Brasília vive o mesmo cenário de fechamento de atividades não essenciais

O mês de março tornou-se marcante para os brasilienses. Na manhã de quarta-feira, 18 de março do ano passado, quando a capital registrava máxima de 31°C e mínima de 20°C, a maior parte da população não precisou de despertadores, pois desmarcou os compromissos e sequer sabia muito bem o que fazer. Na ocasião, estava em vigor o primeiro decreto de "lockdown" na capital do país. O Distrito Federal registrava, na época, 36 casos confirmados de covid-19 e outras 174 notificações para serem avaliadas. Do total, cinco contaminações eram por transmissão local.

Um ano se passou e cá estamos em outro março. Contudo, embora mudem as datas marcadas no calendário, o cotidiano pouco mudou. Estamos em "lockdown" outra vez. Neste ano, as medidas restritivas entraram em vigor no 1º dia do mês. O novo decreto estipulou toque de recolher das 20h às 5h para as atividades não essenciais, além do fechamento de academias, escolas e shoppings centers. No entanto, algumas das restrições foram reanalisadas e, após uma semana fechadas, academias e escolas privadas conseguiram a reabertura.

Se por um lado se conhece bem mais da covid-19 depois dos últimos (sofridos) 365 dias, alguns se acostumaram aos números e não seguem todas as recomendações: caminham com a máscara abaixo do queixo, esquecem o uso do álcool em gel e participam de festas clandestinas. Ainda assim, os motoristas não precisam dar voltas e voltas para encontrar uma vaga. O estacionamento está vazio. O que não muda é o transporte coletivo, que apesar da menor circulação, nos horários de pico percorre a cidade lotado de trabalhadores que atuam nos serviços essenciais.

Já são mais de 5 mil mortes e 324.576 pessoas infectadas. São incontáveis os dias sem reencontros, de abraços virtuais e de beijos mandados a distância e por baixo da máscara. E nas ruas de solidão da capital, da Biblioteca Nacional de Brasília fechada ou da Catedral que não recebe visitas, o que impera (e grita) é o silêncio. Quem imaginaria que as ruas vazias seriam apenas reflexo do coração, também vazio, daqueles que perderam amigos; pais; namoradas; irmãos; conhecidos. De quem ficou, para contar que sobrevive. Ou, ao menos, para sussurrar que tenta.