Título: Mulheres no poder pagam o seu preço
Autor: Abade, Luciana
Fonte: Jornal do Brasil, 17/12/2008, Tema do Dia, p. A2

A pesquisa revela que um terço das famílias brasileiras são chefiadas por mulheres. Confirma a tendência que vem crescendo nos últimos anos, reforçada pelo IBGE, sobre a ascensão do poder feminino no mercado. É o caso, entre outros milhares pelo país, da empresária carioca Gisela Mac Laren, única mulher do país que comanda um grande estaleiro, que herdou da família, assumindo a direção em 2000.

A presidente do Estaleiro Mc Laren Oil, hoje, aos 40 anos, é um exemplo claro desse perfil. Gisela também é chefe de família, alterna a rotina entre cuidar dos filhos adolescentes, com os quais aproveita boa parte do dia, com os trabalhos no grupo. Ela reconhece que o papel da mulher como chefe de família definitivamente não é dos melhores.

¿ Não acredito que seja confortável ¿ afirma a empresária. ¿ A divisão de tarefas com o parceiro é fundamental, seja ela doméstica, na educação dos filhos, entre outras. É uma carga extremamente pesada essa jornada de ser mãe, empresária e chefe de família. Classifico a estrutura familiar convencional conjuntamente pelo pai e pela mãe. Acaba havendo um desequilíbrio.

Saúde

A pesquisa também revela dados correlatos sobre a rotina mais atribulada das mulheres e a saúde da nova geração. É grande proporção de mulheres que nunca realizaram os exames específicos preventivos do tipo de câncer mais comuns: mama e colo do útero. Os dados mostram que no Brasil, 36,4% das mulheres de 25 anos ou mais nunca fizeram o exame clínico de mamas, sendo a proporção entre as brancas de 28,7% e entre as negras de 46,3%.

Raquel de Souza, 33 anos, moradora do bairro de Fátima, no centro do Rio, contou que nunca fez nenhum dos exames citados. No entanto, conheceu de perto os riscos ao lembrar que acompanhou o drama de uma amiga, vítima de câncer no colo do útero.

¿ Nunca fiz por relaxamento mesmo, assim como a minha amiga ¿ revela Raquel na porta de um Hospital de emergência no Rio. ¿ Estou tentando marcar médico para a próxima semana. Mamografia ainda não fiz, mas sempre faço o toque nos seios quando vou ao ginecologista.

Outro indicador que revela a desigualdade de gênero e raça na pesquisa é o desemprego. As mulheres negras se encontram em situação mais precarizada, com uma taxa de desemprego de 12,4%, contra 6,7% das brancas. Nem a beleza da mulata Ecila Rodrigues, pedagoga, faz diferença na hora de conseguir um trabalho. A jovem de 24 anos, moradora de Pilares, Zona Norte do Rio, conta que está há dois anos desempregada.