Título: Apesar de avanços, persiste a desigualdade no mercado
Autor: Abade, Luciana
Fonte: Jornal do Brasil, 17/12/2008, Tema do Dia, p. A2

Brasília

Mesmo com todos os avanços apontados pela pesquisa Retratos do Brasil, também persiste a desigualdade de raça no mercado de trabalho e na educação. A expectativa de vida da população branca, por exemplo, é maior que a negra. Entre 1993 e 2007, o grupo de homens brancos com 60 anos ou mais de idade passou de 8,2% para 11,1% enquanto o de negros na mesma faixa etária aumentou de 6,5% para 8,0%. Mas a proporção de negros na população aumentou de 45,1% para 49,8% nos últimos 15 anos. O aumento da população que se identifica como preta ou parda ocorre praticamente em todas as faixas etárias, o que mostra mudança nos padrões culturais brasileiros.

¿ As políticas afirmativas contribuíram para esse avanço social ¿ afirma o coordenador do grupo de estudos afro-brasileiro da Universidade de Brasília (UnB), professor Nelson Inocêncio. ¿ Mas outras ações antecederam essa política como a luta do movimento negro pela identidade positiva, além dos movimentos artísticos e culturais que levaram às pessoas a terem prazer em se assumirem negras.

Cotas raciais

Segundo o professor, o sistema de cotas raciais pelas universidades são um exemplo de política afirmativa que tem contribuído para a mudança cultural porque está mudando a paisagem do campus e a idéia racista de que lugar de negro é na cozinha.

No que se refere à renda financeira da população brasileira, as mulheres negras estão em extrema desvantagem, uma vez que sofrem uma dupla discriminação: de gênero e raça. Em 2007, as mulheres negras ganhavam, em média, R$ 430, enquanto os homens brancos recebiam R$ 1.270.

A maioria dos domicílios que recebem benefícios assistenciais é chefiada por negros. É o caso de Ubirajara Ramos, 50 anos, morador de Seropédica, região metropolitana do Rio de Janeiro. Pedreiro e pai de cinco filhas, Ubirajara completa a renda mensal com o Bolsa Família. A esposa, dona de casa, é quem ajuda a organizar o orçamento e cuidar das filhas, principalmente a de 17 anos que sofre de distúrbios mentais.

¿É uma barra segurar tanto sufoco ¿ lamenta Ubirajara.

De acordo com os pesquisadores, os dados raciais da pesquisa não apresentam surpresa, já que os os dados de pobreza quando desagregados por cor e raça mostram que os negros são os mais pobres. Mas as informações dão visibilidade a uma realidade racista que exige respostas imediatas e reforçam a necessidade de adoção de mediadas que visem à valorização e promoção de igualdade racial nas ações públicas. (L.A.)