Correio Braziliense, n.21120 , 22/03/2021. Política, p.3

 

Bolsonaro celebra no Alvorada

Luiz Calcagno

22/03/2021

 

 

O presidente comemora os 66 anos de vida com apoiadores. Usando máscara e evitando apertar a mão dos presentes, fez críticas às medidas tomadas pelos governadores. "Só Deus me tira daqui", diz

O presidente da República discursou a apoiadores para celebrar o aniversário. Jair Bolsonaro completou 66 anos ontem e as comemorações contaram com aglomeração e protestos contra medidas de contenção da pandemia de covid-19. O próprio presidente se comportou de forma dúbia em relação ao combate ao novo coronavírus. Por um lado, quando partiu um bolo em frente ao Palácio da Alvorada para eleitores, usou máscara praticamente todo tempo e evitou apertar a mão dos presentes como normalmente faz. Por outro, usou o discurso para fazer ameaças veladas e, novamente, atacar as medidas de governadores de combate à crise sanitária.

"O que o povo mais pede para mim, em todo lugar que eu vou, é 'Eu quero trabalhar'", disse, sob aplausos. A comemoração em frente ao Alvorada durou pouco mais de 23 minutos e foi toda filmada. O presidente estava acompanhado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que faz aniversário hoje. Apoiadores já esperavam na grade, muitos sem máscara, quando Bolsonaro chegou e percorreu todo o trajeto em que os presentes se aglomeravam acenando. Em seguida, parou em frente a um bolo azul e amarelo, que provou com o dedo, lavou as mãos no espelho d'água e fez um discurso.

O presidente só retirou a máscara para falar. Começou dizendo que não abrirá mão da "liberdade". "Alguns tiranetes ou tiranos tolhem a liberdade de muitos de vocês. Pode ter certeza, o nosso exército é o verde-oliva e é vocês também", disse. Na sequência, elevou o tom. "Contem com as Forças Armadas pela democracia e pela liberdade. Estão esticando a corda. Faço qualquer coisa pelo meu povo", declarou para, em seguida, amenizar garantindo que "esse qualquer coisa é o que está na nossa Constituição".

"Enquanto vivo for, enquanto for presidente, que só Deus me tira daqui, eu estarei com vocês. Não abriremos mão desse poder que vocês nos deram por ocasião de 2018", continuou o presidente. Bolsonaro também garantiu que o governo está combatendo o coronavírus. Sob pressão política, vê a popularidade cair (o número de brasileiros que rejeitam o presidente foi de 40% a 44% entre janeiro e março de 2021), em grande parte pelo número de contaminações e mortes diárias. Bolsonaro tem histórico conhecido de sabotar o combate à pandemia, recusando, até, a compra de vacinas.

"Muito fizemos até o momento no combate ao vírus. Não só compra de vacinas, desde o ano passado, bem como o maior projeto social do mundo, que foi o auxílio emergencial. O povo precisou, nós atendemos. O trabalho dignifica o homem e a mulher. Ninguém quer viver de favores do Estado. Quem vive de favor do Estado abre mão de sua liberdade", discursou. O presidente editou, esta semana, uma MP para uma segunda rodada do auxílio emergencial, que será, em média, de R$ 250.

Manifestação

Mais cedo, apoiadores do presidente realizaram uma carreata na Esplanada. Os manifestantes declararam apoio ao governo federal e gritaram contra a decisão do governador Ibaneis Rocha (MDB), que prorrogou, na última sexta-feira, o lockdown e o toque de recolher no DF. A fila de carros ocupou o Eixo Monumental em direção ao Congresso. Bandeiras do Brasil foram hasteadas nas janelas da maioria dos veículos. Havia também pessoas que carregavam bandeiras.

Um carro de som acompanhou os manifestantes. Alguns também acompanham o protesto a pé, usando camisetas do Colecionadores, Atiradores e Caçadores (CACs) — grupo que utiliza armas de fogo para alguma das três atividades. A Polícia Militar acompanhou a movimentação. Mais uma vez, vários dos apoiadores do presidente estavam sem máscara.