Correio Braziliense, n.21121 , 23/03/2021. Brasil, p.5

 

OMS: Brasil deve levar covid a sério

Bruna Lima

23/03/2021

 

 

Agência da ONU volta a cobrar atuação integrada e efetiva contra a disseminação da doença. E ressalta que número de óbitos no país deu um salto de fevereiro para março, a ponto de liderar o ranking de onde mais se morre por dia do novo coronavírus

A Organização Mundial da Saúde (OMS) voltou, ontem, a advertir o Brasil para a gravíssima situação da pandemia da covid-19. Além de lembrar que as mortes pela doença dobraram de fevereiro para março, os dirigentes da agência das Nações Unidas manifestaram preocupação com a condução descoordenada do governo Bolsonaro — cujo Ministério da Saúde tem dois ministros — da pandemia.

"A situação atual precisa ser levada a sério", destacou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom. Ontem, o país chegou à marca de 295.425 óbitos pela doença, sendo 1.383 nas últimas 24 horas, sem os dados do Ceará, por causa de problemas técnicos. O total de casos está em 12.047.526.

Na reunião que trata da crise sanitária mundial, o Brasil foi destaque pelos índices negativos, sendo o país que, atualmente, lidera o ranking de mortes diárias pela covid-19 em todo o planeta, ao registrar 1/5 dos novos óbitos no mundo, mesmo somando apenas 2,7% da população global.

"A situação do Brasil é muito preocupante e nos assusta que o número de mortes no último mês dobrou. Estamos ansiosos para trabalhar de perto", salientou Adhanom.

Entretanto a OMS não sabe a quem se dirigir no Ministério da Saúde — Eduardo Pazuello está para sair e Marcelo Queiroga foi anunciado, mas não assumiu o cargo. A posse do cardiologista, que deveria ocorrer hoje, foi mais uma vez adiada e só deve ocorrer na quinta-feira, 10 dias após o anúncio de que substituiria o general na condução da pasta.

Queiroga, que é sócio-administrador de uma clínica, precisa abdicar da permanência no empreendimento para assumir o cargo, uma das razões que atrasam a efetivação. A outra seria que destino dar a Pazuello: entre as alternativas estão assumir um ministério especialmente criado para ele — que poderia ser uma pasta voltada para a Amazônia, esvaziando as atribuições do vice-presidente Hamílton Mourão, presidente do Conselho da Amazônia — ou a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), hoje com o almirante Flavio Rocha, que, porém, não estaria disposto a abrir mão do posto.

Enquanto não acontece a troca no Ministério da Saúde, a escalada na média móvel continua em ascendência. Para conseguir lidar com o atual cenário, Mariângela Simão, vice-diretora da OMS e especialista em distribuição de medicamentos e vacinas do órgão, ressaltou a necessidade de um olhar voltado para a ciência e alinhado entre União, estados e municípios. "As políticas de saúde precisam ser baseadas em evidência científica, e que sejam alinhadas entre as três esferas de governo", observou, cobrando de Queiroga "muita competência e firmeza na condução do enorme desafio".