Correio Braziliense, n.21123 , 25/03/2021. Política, p.2

 

Sinistro: 300 mil mortos

Bruna Lima

Maria Eduarda Cardim

Sarah Teófilo

Fabio Grecchi

25/03/2021

 

 

CORONAVÍRUS » Brasil levou cinco meses para saltar de 100 mil para 200 mil óbitos e apenas pouco mais de dois meses para somar mais uma centena de milhar de vidas perdidas para o novo coronavírus, de acordo com o levantamento do Conass. Casos são 12.219.433

O Brasil chegou ontem à marca de 300.675 mortos pela covid-19 desde o começo da pandemia, de acordo com dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Mas, para alcançar este ponto, o país precisou somente de pouco mais de dois meses. Foi no começo de janeiro que cruzou a faixa dos 200 mil óbitos.

A progressão geométrica da doença se acelerou a partir do começo de 2021. Isso porque, para chegar à segunda centena de milhar em vidas perdidas, o país levou aproximadamente cinco meses. Em agosto de 2020 passado, o Brasil tinha acabado de registrar pouco mais de 100 mil vítimas fatais do novo coronavírus.

Questionado sobre o grau de descontrole atual — afinal, o país está à frente das estatísticas mundiais de vidas perdidas em apenas 24 horas —, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, lamentou as mortes. Porém, frisou que o momento é de pensar no futuro. "Temos que olhar para a frente", disse.

Segundo o Conass, entre terça-feira e ontem, 1.999 pessoas não resistiram à força da doença — por dificuldades de acesso à plataforma das respectivas secretarias de Saúde, os números do Amapá e do Ceará são os mesmos da terça-feira.

Subnotificação

Os municípios tiveram problemas para incluir novos registros de covid-19. Apesar das mais de 300 mil mortes, este número está subnotificado, pois vários casos deixaram de ser atualizados no Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe) — onde ficam registrados os pacientes acometidos pela doença — devido a uma nova exigência do Ministério da Saúde. Após circular a suspeita de que a pasta, mais uma vez, tentava manipular o número de mortos e de infectados, como fizera em 2020, a nova sistemática foi suspensas.

Os conselhos de secretários de Saúde estaduais e municipais (Conass e Conasems) entraram com a solicitação de "retirada temporária da obrigatoriedade do preenchimento dos campos CPF ou Cartão Nacional de Saúde (CNS), nacionalidade e imunização do paciente internado", conforme esclareceu uma nota conjunta das duas entidades. A alegação era de que a mudança do ministério foi feita sem aviso-prévio.

Em São Paulo, por exemplo, houve uma brusca queda no número de óbitos registrados de um dia para o outro. Enquanto na terça foram somadas 1.021 mortes, ontem o número desabou para 281. O secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, criticou o fato de o ministério passar a exigir novos dados repentinamente, o que causou a subnotificação. "Burocratizar, sem avisar, fez com que nós não tivéssemos aportado, por grande parte dos municípios do país, o número real de óbitos", disse.

Diante das críticas, a pasta adiou a obrigatoriedade. O ministro Marcelo Queiroga disse que não sabia da alteração. "Não houve nenhuma determinação minha de fazer qualquer tipo de alteração em notificação", garantiu.