Correio Braziliense, n.21125 , 27/03/2021. Brasil, p.6

 

Vacina para chamar de nossa

Maria Eduarda Cardim

27/03/2021

 

 

 Recorte capturado

No mesmo dia, governos federal e de São Paulo anunciam estudos de imunizantes nacionais. Anvisa recebeu pedido para testes da Versamune®-CoV-2FC, desenvolvida pela Farmacore Biotecnologia e pela PDS Biotechnology Corp., e da Butanvac, que virá do Instituto Butantan
Bruna Lima

O Brasil deu ontem passos importantes para a independência total em relação ao fornecimento de vacinas e insumos para combater a pandemia de covid-19. Enquanto o governo federal aposta em três iniciativas produzidas do zero — sendo uma delas, a Versamune-CoV-2FC, cuja documentação com o pedido para iniciar a fase de testes em humanos foi protocolada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) —, o de São Paulo anunciou a ButanVac, que vem sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan.

Assim como a Versamune-CoV-2FC, a ButanVac teve o pedido de estudos clínicos protocolados junto à Anvisa, o que foi feito ontem à noite. Mas o governador João Doria fez questão de ressaltar que o país já teria acesso a 40 milhões de doses do imunizante no segundo semestre deste ano. Para a produção do fármaco, o instituto deverá usar tecnologia já disponível em sua fábrica de vacinas contra a gripe, a partir do cultivo de cepas em ovos de galinha, que gera doses de vacinas inativadas, feitas com fragmentos de vírus mortos.
Porém, a ButanVac surge em meio a uma polêmica: um grupo de estudos da Escola de Medicina do Hospital Mount Sinai, de Nova Iorque, afirmou ser dele a tecnologia da vacina e que a teria repassado aos brasileiros. O Butantan, inicialmente, disse que o instituto faz o desenvolvimento com várias entidades de pesquisa com as quais tem parceria, mas, depois, reconheceu que recebeu a licença para desenvolver o fármaco —, mas reafirmou que esse processo de elaboração é 100% nacional.

Em relação à Versamune-CoV-2FC, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, não deu detalhes de quando ficará disponível para ser incluída no Plano Nacional de Imunização (PNI). Mas protocolou junto à Anvisa documentação para iniciar a fase de testes em humanos. "Em termos de tempo, a gente depende da Anvisa. Quando eles aprovarem, imediatamente a gente começa o protocolo para testes com as pessoas", explicou.

A Farmacore, desenvolvedora do imunizante junto à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) e à PDS Biotechnology Corporation, informou que o contato com a agência começou em novembro de 2020, mas só agora recebeu o sinal verde para dar prosseguimento e encaminhar a documentação para as fases iniciais de testes.

Segundo o ministro, os testes clínicos serão feitos com 360 pessoas. Nessa fase, o objetivo é avaliar a segurança da vacina. "Logo depois, entram os testes clínicos fase 3, que já são realizados com 20 mil a 30 mil pessoas para checar a eficiência da vacina", salientou.
Também ontem, a União Química deu entrada junto à Anvisa para que a vacina Sputnik V seja usada emergencialmente. A agência tem sete dias para analisar e conceder a autorização.

Fiocruz na corrida

A Fiocruz também trabalha no desenvolvimento de vacinas 100% nacionais, criadas e inteiramente produzidas no Brasil. São quatro projetos, dois deles apenas da instituição e outros dois realizados em diferentes parcerias. Os dois projetos estão ainda em estágio pré-clínico. Um deles se baseia em uma plataforma inovadora. Trata-se de uma vacina sintética, com partículas semelhantes às proteínas do vírus, que são capazes de induzir uma resposta imunológica. O segundo projeto é mais tradicional e usa as proteínas do próprio vírus para estimular a produção de anticorpos e das células T, de defesa.

Ambas já foram aprovadas na fase de imunogenicidade e toxicidade em animais. O próximo passo é avaliar a resposta imunológica dos animais em resposta à exposição ao Sars-CoV-2. A partir desses resultados, a Fiocruz vai determinar qual dos dois projetos é mais promissor para prosseguir com os testes clínicos.
Paralelamente, a Fiocruz firmou parcerias com outros dois projetos. O primeiro deles é para a criação de uma vacina de última geração, baseada em RNA, com uma empresa americana. O segundo, também de última geração, é feito a partir de partículas sintéticas do vírus em parceria com uma empresa do Reino Unido. Essa vacina já está em fase de estudo clínico de fase 1, na Suíça.