Título: Governo quer ensino médio profissionalizante obrigatório
Autor: Abade, Luciana
Fonte: Jornal do Brasil, 29/12/2008, País, p. A5

O Ministério da Educação apre- sentou, no último dia 16, em parceria com a Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos, uma proposta para tornar obrigatório o ensino profissionalizante no nível médio na rede pública. Os Ifets atuariam como uma alavanca para a implementação do novo modelo. Um dos objetivos é evitar a crescente evasão escolar de alunos da faixa etária de 15 a 17 anos, que não conseguem conciliar trabalho com estudo. Na ocasião, o ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou que a proposta tem como objetivo derrubar a fronteira entre o ensino médio geral, muito afastado da realidade, dos interesse do mercado de trabalho.

O coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, acredita que o mercado de trabalho está carente de profissionais qualificados e que o ensino profissionalizante no ensino médio pode suprir essa demanda. Mas ressalta que, para tanto, seria necessária uma mudança cultural do empresariado, que deve ver nesse estudante formado em uma escola técnica um profissional à altura das exigências do mercado de trabalho. ­

O que o Estado não pode fazer é encarar o ensino médio profissionalizante com caráter terminativo ­ analisa Daniel. ­ Os jovens devem ter as duas opção. Parar por aí, ou prosseguir os estudos na graduação. E, para isso, é necessário não só uma reestruturação do ensino médio brasileiro, mas que o governo invista mais em educação.

Segundo Daniel, o ensino médio no Brasil passa por uma fase complicada, em que a palavra apagão é apenas um das que podem ser usadas para classificá-la. E, para instalar uma ensino médio integrado ao profissionalizante, não seria necessário apenas que as empresas passassem por uma mudança cultural, mas que o próprio governo reformulasse algumas normas, como a de concursos públicos que exigem uma formação em curso superior.

Dificuldades

Haddad também ressaltou du- rante o lançamento da proposta que atrair os entes federados para o modelo, de forma a transformar as escolas médias já existentes, será um passo difícil. O problema está no fato da União não poder determinar mudanças no currículo escolar. Essa é uma prerrogativa das secretarias estaduais de educação. E a proposta do ministério sai caro para os governos estudais porque o modelo só funciona com uma média de gasto por aluno superior a R$ 2 mil ao ano. A média dos estados hoje é de R$ 1,4 mil.

Apesar de não existir um formato de como funcionaria o apoio financeiro da União aos estados para possibilitar a reforma proposta para o ensino médio, a Secretaria de Assuntos Estratégicos acredita que substituir o regime de repartição de responsabilidade por um regime de cooperação entre os entes federados seria uma possibilidade. Em 2006, 700 mil alunos concluíram o ensino técnico.