Correio Braziliense, n.21127 , 29/03/2021. Brasil, p.5

 

País atinge a marca de 12,5 milhões de casos

Sarah Teófilo

29/03/2021

 

 

CORONA VÍRUS » Nem as subnotificações que costumam ocorrer nos fins de semana impedem o país de superar as tristes marcas da pandemia, com mais um recorde, de 1.656 mortes em um domingo. A chegada de insumos deve acelerar a produção de vacinas pelo Butantan

O Brasil atingiu, ontem, a marca de 12,5 milhões de casos de covid-19 e registrou 1.656 mortes por covid-19 em 24 horas e 44.326 novos casos, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, compilados junto às secretarias estaduais. Foi a maior quantidade de óbitos registrados em um domingo desde o início da pandemia. No último sábado, foram registrados 3.438 óbitos pela doença, tendo sido também a maior quantidade observada em 24 horas.

O número total de mortos pela doença no Brasil agora chega a 312,2 mil. Além disso, foram registrados 44,3 mil novos casos da doença em 24 horas, com o total de 12,5 milhões de registros. O país passa pelo pior momento da pandemia, com um crescimento diário de casos e mortes pela covid-19. Na última sexta-feira, o país voltou a bater recorde, com 3.650 mortes em 24 horas.

A última semana epidemiológica (21 a 27 de março) terminou com 17.798 óbitos, a mais letal durante toda a pandemia. Esse número tem aumentado semanalmente, há seis semanas. O estado que registrou ontem a maior quantidade de óbitos em 24 horas foi Minas Gerais, com 321, ficando atrás de São Paulo, que registrou 244 novas mortes. São Paulo continua sendo o estado com a maior quantidade de óbitos e casos acumulados, chegando a 2,4 milhões de casos e 71,9 mil óbitos.

O Brasil está em segundo lugar no mundo em número de casos e óbitos por covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos, que tem 30,2 milhões de casos registrados e 549 mil mortes, segundo levantamento realizado pela plataforma da Universidade Johns Hopkins (EUA).

Imunização

O governo federal demorou a se articular por vacinas contra covid-19, e agora o país amarga uma vacinação lenta. Até o momento, segundo dados da plataforma Our World in Data, apenas 6,3% da população brasileira foi vacinada com os imunizantes produzidos pelo Instituto Butantan (Coronavac), em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em conjunto com a Astrazeneca e a Universidade de Oxford.

Na manhã de ontem, a Fiocruz recebeu duas remessas de Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) vindas da China para a produção de cerca de 12 milhões de doses de vacina. A previsão era que os insumos chegassem no último sábado, mas houve atraso na conexão do voo que chegou ao Brasil. Os produtos saíram da China na noite da última quinta-feira, chegando a Luxemburgo no dia seguinte, pela manhã. O atraso ocorreu na conexão.

Na última quinta-feira, a Fiocruz já havia recebido uma quantidade de insumo suficiente para a produção de 6 milhões de doses. Nesta semana, a fundação espera receber mais uma remessa para a produção de outras 5 milhões de doses. A produção será feita pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), da Fiocruz. "Os quatro lotes cobrem as entregas de vacinas programadas para abril e parte de maio, para o Ministério da Saúde", informou a fundação.

O cronograma completo da Fiocruz prevê a entrega de 100,4 milhões de doses no primeiro semestre e 110 milhões de doses no segundo semestre, já com a incorporação da tecnologia da produção da matéria-prima no Brasil.

Anvisa

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que emitiu exigências para a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP) após analisar o pedido de realização de estudos clínicos das fases 1 e 2 da vacina Versamune-CoV-2FC, imunizante desenvolvido em parceria com a farmacêutica brasileira Farmacore e a americana PDS Biotechnology.

Conforme a Anvisa, "as exigências não suspendem a análise das demais informações apresentadas pelas desenvolvedoras" da vacina contra covid-19 que poderá ser a primeira brasileira. O governo federal, que a financia, anunciou que havia solicitado a autorização para fazer testes clínicos em humanos. A documentação foi protocolada na agência um dia antes, na quinta-feira.

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Descaso com a vida: praias cheias no Rio

29/03/2021

 

 

Apesar dos apelos das autoridades e dos profissionais de saúde para que os brasileiros fiquem em casa neste momento de recrudescimento da pandemia de covid-19, o domingo foi de desrespeito às medidas de isolamento social em diversos locais do Brasil. As praias do Rio de Janeiro, por exemplo, receberam vários banhistas, e bares da cidade de São Paulo foram notificados por aglomerações ilegais. Uma festa clandestina também foi fechada pela Polícia Militar (PM) em Goiás.

O estado do Rio de Janeiro e a cidade de São Paulo anunciaram um "megaferiado", na semana passada, para tentar conter a disseminação da covid-19. Muita gente, no entanto, resolveu aproveitar os primeiros dias de folga para ir à praia ou a festas ilegais. Só no sábado, os fiscais da prefeitura do Rio de Janeiro fizeram 736 autuações, que resultaram em 186 estabelecimentos multados e 11 fechados, por desrespeito às medidas restritivas.

Ontem, a Guarda Municipal também precisou tirar banhistas das praias. Os guardas ainda reprimiram vendedores ambulantes que alugavam barracas de praia e vendiam bebidas aos banhistas em um momento em que não é permitido tomar banho de mar, apenas a prática de atividades físicas individuais nos espaços públicos do Rio. Além disso, uma festa clandestina com mais de 300 pessoas — muitas delas sem máscara, em uma piscina — foi interditada na zona oeste da cidade.

Desrespeito

Diante do desrespeito às medidas restritivas, a Prefeitura do Rio de Janeiro fez um apelo nas redes sociais por "responsabilidade, sabedoria e senso de urgência". "Mesmo reforçado desde o começo do ano, o sistema de saúde carioca está no limite. O número de internações cresce em uma escala que não respeita nossa capacidade de expansão. Por isso, é fundamental aproveitarmos esses 10 dias para interromper ao máximo o ciclo de transmissão do coronavírus. Levar o recolhimento a sério agora é a única forma de evitar um colapso na Saúde e encurtar a duração das restrições", alertou a administração da capital fluminense.

Em São Paulo, não foi diferente, tanto que 13 pessoas chegaram a ser presas nas ações de fiscalização da fase emergencial do Plano São Paulo. O governo explicou que 352 pontos de aglomeração foram dispersados em diferentes regiões da capital paulista na noite de sábado, inclusive duas festas ilegais, cujos responsáveis foram autuados por infração de medida sanitária preventiva. Os responsáveis por um bar também foram autuados por permitirem que pessoas sem máscaras ficassem no local.

Uma festa clandestina também foi flagrada em Jataí, Goiás, ontem, apesar de o governo estadual ter determinado o fechamento dos serviços não essenciais até amanhã. Para acompanhar a decisão estadual, por sinal, a prefeitura de Goiânia adiou de hoje para quarta-feira a reabertura dos serviços não essenciais da cidade. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, parabenizou o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz, pela decisão. "Só com união vamos vencer o coronavírus. [...] Vamos cada um fazer sua parte, salvar vidas acima de tudo", escreveu nas redes sociais.

No fim de semana, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, também pediu que os brasileiros respeitem as medidas de distanciamento social e usem máscaras de proteção, inclusive no feriado da Semana Santa, na próxima semana. Segundo ele, é preciso que os brasileiros se conscientizem do seu papel na pandemia para que a covid-19 seja controlada no país.

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Queiroga cria secretaria

29/03/2021

 

 

Recém-chegado ao comando do Ministério da Saúde, o médico Marcelo Queiroga tem trabalhado durante o fim de semana na organização da Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Pandemia. Essa equipe irá concentrar as ações sobre o combate à crise de covid-19 dentro do ministério. "É uma ação prioritária. Durante a pandemia, teremos um núcleo dedicado."

Queiroga disse, ainda, não ter definido o nome para o comando dessa secretaria. O núcleo irá atuar como uma ação complementar ao trabalho do comitê criado pelo presidente Jair Bolsonaro com demais poderes da República para o enfrentamento à crise, grupo que deve ter sua primeira reunião oficial hoje. "No momento, a prioridade é o combate à pandemia", disse o ministro. Quando do anúncio do novo departamento, Queiroga destacou que a área vai funcionar 24 horas por dia. "A sociedade requer que o ministério fique de prontidão", destacou.

Nesta segunda, Queiroga também participa de audiência pública, às 16h, no Congresso, na comissão temporária criada para acompanhar as ações contra a covid-19. Os parlamentares querem debater o Plano Nacional de Imunização e o cumprimento dos prazos já estabelecidos, entre outras medidas, e devem fazer uma série de questionamentos ao ministro. "O complexo é enfrentar a pandemia, e o Congresso Nacional tem sido importante", disse Queiroga sobre o evento.

Durante o fim de semana, o médico aproveitou também para pôr em prática uma determinação de Bolsonaro sobre aumentar a interlocução do Ministério da Saúde com as demais pastas do governo. No sábado ele se reuniu, por videoconferência, com Paulo Guedes, momentos antes do ministro da Economia ser vacinado, e definiu a conversa como "ótima".

Defesa da máscara

Empossado há cinco dias, Queiroga tem feito a defesa do uso de máscaras de proteção e tem pedido que pessoas evitem aglomerações, um sinal de mudança de postura do governo, enquanto o Brasil passa a bater recordes diários com mais de 3 mil pessoas mortas a cada 24 horas pela covid-19.

"As máscaras ajudam a bloquear a circulação do vírus. Se todos usassem máscaras, o efeito seria semelhante ao de vacinar a população do nosso país", disse. Na sexta-feira, durante anúncio do desenvolvimento de uma vacina brasileira contra covid-19, ao lado do ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, Queiroga tentou cunhar um slogan: a pátria de máscara. O ministro da Saúde determinou o uso de máscaras nas dependências da pasta. E disse ter "estranhado" flagrar servidores sem o equipamento no órgão.