Título: Diretor troca espetáculo por gestão da máquina
Autor: Quadros, Vasconcelo
Fonte: Jornal do Brasil, 04/01/2009, País, p. A14

Gaúcho, aos 49 anos, Luiz Fernando Corrêa é um delegado da ativa que percorreu todos os caminhos dentro do órgão até se transformar num gestor de segurança: foi agente de repressão às drogas, prendeu e trocou tiros com traficantes e virou delegado sem nunca abandonar o estilo cana dura que agrada aos policiais. Coroou seu novo perfil dirigindo a Secretaria Nacional de Segurança, onde implantou a Força Nacional de Segurança e o Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci), carro-chefe dos programas do Ministério da Justiça. Coordenou a segurança nos Jogos do Pan, no Rio em 2007 e, entre os programas eficientes que introduziu às investigações, está aquele que se transformou no terror dos corruptos: o sistema de grampo telefônico conhecido por Guardião.

No início de 2008, o diretor anunciou o plano Polícia Federal de 2022. Corrêa passou a imprimir uma agenda de discussões internas para estimular o aperfeiçoamento e modernização da máquina. Corrêa é o primeiro a chegar às reuniões e, sempre que vai tornar pública uma decisão importante, toma o cuidado de primeiro anunciá-la internamente, o que fortalece a confiança com os subordinados. Impessoal, mesmo quando é preciso cortar na própria carne, fez assim no episódio em que ele mesmo se viu obrigado a dar ordem de prisão no número 2 da corporação, o delegado Romero Menezes, seu colega e amigo, agora definitivamente exonerado do DPF.

Corrêa colocou a gestão na agenda da PF e marcou um estilo diferente de seus antecessores, trocando a "espetacularização" por uma ação policial mais consistente e discreta. A compreensão do processo político talvez seja o que mais pesa contra sua imagem: a elite que há séculos domina o poder acha que ele enquadrou uma PF que estava fora do controle e sepultou a era das operações que não poupavam nem os familiares do presidente da República, ousadia que custou a cabeça do então diretor-geral, Paulo Lacerda.

A assombração produzida pelas grandes operações ainda assusta. Em vez de demitir ou reconduzir Lacerda ao cargo, o governo optou por nomeá-lo adido policial da Embaixada Brasileira em Lisboa.

¿ Está claro que ele agiu com o respaldo de alguém que é forte no governo e ganhou um prêmio pelos bons serviços ¿ diz o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), da CPI do Grampo.

Fruet suspeita que a resposta seja o silêncio da PF sobre inquéritos que vão dos casos Waldomiro Diniz ao Gampecorp ¿ a transação entre a BrasilTelecom e a empresa do filho do presidente, Fábio Luis Inácio.

¿ O governo acomodou Lacerda atropelando normas internas da PF e pode ser questionado na Justiça. O cargo é para delegado federal da ativa ¿ diz o presidente da CPI do Grampo, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ).