Título: Corrêa vence e se fortalece na PF
Autor: Quadros, Vasconcelo
Fonte: Jornal do Brasil, 04/01/2009, País, p. A14

Em Portugal, Lacerda ficará sob coordenação de delegado subordinado a seu antigo desafeto

Vasconcelo Quadros

BRASÍLIA

A solução política dada pelo governo para abafar a crise entre os órgãos federais de segurança fortaleceu o delegado Luiz Fernando Corrêa, o grande vencedor da guerra travada nos últimos quatro meses entre a Polícia Federal e Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Profissional, discreto e gestor de visão política, Corrêa esperou que a crise caísse em seu colo para consolidar seu estilo: referendou, sem obstáculo, a entrega da vaga de adido policial em Portugal ao delegado Paulo Lacerda como "contribuição" para superar o impasse gerado pela Operação Satiagraha e pela denúncia de grampo no telefone do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes.

¿ O Luiz Fernando é forte no governo ¿ resume o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Marcos Wink.

A entidade dá apoio crítico ao diretor da PF, mas reconhece que ele conta com denso respaldo dentro da corporação, um fato raro em se tratando de um órgão politizado e impregnado por rixas internas.

¿ Ele nunca cobrou da gente nada que não tenha sido o primeiro a dar exemplo ¿ diz o delegado Roberto Troncon Filho, chefe da diretoria de Crime Organizado do DPF.

Nos dias que antecederam o anúncio oficial de exoneração do ex-diretor da Abin Paulo Lacerda e sua nomeação como adido, eram fortes nos bastidores os rumores de uma solução governamental que ficou conhecida como "caidinha casada". Traduzindo: a exoneração de Lacerda da Abin e Luiz Fernando Corrêa da PF para apaziguar todos os grupos. Soube-se, então, que o diretor da PF tinha mais musculatura política do que aparentava. A recusa à sugestão demonstrou que Lacerda emagrecia no governo e corria o risco de perder seu mais forte apoio, o do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, a figura mais ouvida pelo presidente Lula quando o assunto é crise.

A força de Corrêa, soube-se então, estava amparada em bases sólidas: embora discreto, sem nunca ter alardeado, é um gestor cujo estilo é visto com simpatia pelo presidente desde que chefiou a segurança do então candidato Lula; goza de amplo apoio dos principais dirigentes do PT e dos caciques dos outros partidos da base aliada e, o mais importante, tem o respaldo de cerca de 90% da corporação que dirige. Entre seus méritos, está o fim das disputas internas, o que empurrava a corporação para crises intermináveis pelo comando da corporação. Lacerda tinha o apoio dos delegados, mas era bombardeado pelas entidades que representam os agentes e, embora tenha trajetória construída sem manchas no currículo, seu perfil político é conservador. Ninguém tirará do novo adido em Portugal, no entanto, o mérito de, em sua gestão, ter permitido que a polícia chegasse à elite que não era alcançada pela lei.