O Globo, n.31995 , 13/03/2021. Sociedade, p.10

 

Saúde compra 10 milhões de doses da Sputinik

Paula Ferreira

Leandro Prazeres

13/03/2021

 

 

Apesar de ainda não ter autorização da Anvisa, primeiro lote com 400 mil vacinas Chegará em abril ao Brasil; governador da Bahia, Rui Costa diz que Consórcio Nordeste vai assinar contrato para garantir mais 37 milhões de imunizantes a serem pagos pela União

 

OMinistério da Saúde assinou, ontem, o contrato para a compra de 10 milhões de doses da vacina Sputnik V. As primeiras 400 mil doses do imunizante chegarão ao país até o fim de abril, e o cronograma prevê a entrega de 2 milhões de doses até o final de maio e mais 7,6 milhões em junho. O secretário executivo da pasta, Élcio Franco, cobrou, no entanto, que a União Química, farmacêutica que fechou acordo de comercialização e produção da vacina russa contra o coronavírus no Brasil, agilize o processo de autorização do imunizante junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). —Agora, para que possamos efetivamente aplicar a Sputnik V em nossa população e realizar os pagamentos após cada entrega de doses dessa vacina, só necessitamos que a União Química providencie coma Anvisa, o quanto antes, a autorização para uso emergencial e temporário —disse Franco. Atualmente, a União Química está com dois processos parados na Anvisa devido à falta de informações. A visão de gestores estaduais é de que asanção, na última quarta-feira, da lei que prevê sete dias para análise da Anvisa no caso de vacinas autorizadas no exterior, facilitará o processo. O Ministério da Saúde afirmou que a farmacêutica pretende produzir vacinas em suas fábricas em São Paulo e no Distrito Federal.

ACORDO COM O NORDESTE

A pasta participa ainda de uma negociação para a aquisição de 37 milhões de doses da vacina russa com intermediação do governo da Bahia. Inicialmente, seriam 39 milhões de doses destinadas ao Consórcio Nordeste, que acabaram sendo reduzidas e oferecidas pelos governadores ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Na noite de ontem, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), afirmou que os governadores do nordeste devem assinar até quarta-feira o contrato para a aquisição desse montante. A expectativa dos governadores é que o governo federal faça o reembolso do valor pago pelos estados, em uma negociação liderada pelo chefe do Executivo do Piauí, Wellington Dias, que também é presidente do Consórcio Nordeste.

O secretário Élcio Franco afirmou durante entrevista coletiva ontem que o Ministério da Saúde iria assumir os memorandos de entendimento, passo anterior à assinatura do contrato, dos estados. Na interpretação de Rui Costa, Franco se refere ao reembolso e possível incorporação das doses adquiridas pelo consórcio ao Plano Nacional de Imunização (PNI) do governo federal.

—Quando alguém diz que vai assumir, ele deve estar se referindo que vai assumir o pagamento, o reembolso, vai incorporares se quantitativo dentro do plano nacional —explicou Rui Costa, acrescentando :

— O formato agente vai ter que dialogar como ministério, não somos contra que isso componha o PNI. O ministério pode considerar isso dentro do plano e compensar não enviando vacinas que enviaria a nós no mês seguinte, para manter equidade de distribuição entre os estados. Segundo ele, a estratégia para que o Ministério da Saúde assinasse formalmente a compra foi deixada de lado para não ameaçar o cronograma.

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Anvisa dá registro definitivo à vacina da AstraZeneca

13/03/2021

 

 

Fiocruz receberá este mês IFA para produzir 30 milhões de doses. Agência também aprovou uso do Rendesivir no tratamento da Covid

AAgência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concedeu ontem o registro para a vacina contra a Covid-19 da farmacêutica AstraZeneca, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford. A produção pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do imunizante ganhará ainda outro incentivo: a fundação informou ontem que receberá da AstraZeneca este mês o dobro do lote de Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), matéria-prima para a produção da vacina, previsto para março.

Segundo nota da Fiocruz, serão enviados da China, em março, quatro lotes de 256 litros cada um, com quantidade de insumo suficiente para a produção de cerca de 30 milhões de doses. Com isso, a produção da Fiocruz estará garantida até o final de maio.

A vacina da AstraZeneca já tinha autorização para uso emergencial no Brasil, mas apenas dos lotes importados do Instituto Serum, da Índia. A Fiocruz espera entregar 222 milhões de doses neste ano. Em nota, a fundação disse que, com o registro, poderá entregar as primeiras doses já na semana que vem: “A Fiocruz passa a ser a detentora do primeiro registro de uma vacina Covid-19 produzida no país. (...) Com o registro, a expectativa é de que a Anvisa autorize a liberação dos primeiros lotes até este domingo (14/3) para que, na próxima semana, a Fiocruz possa entregar ao PNI o primeiro milhão de vacinas Covid-19 produzidas pela instituição”.

Neste mês, serão distribuídas 3,8 milhões de doses. O registro definitivo permite a aplicação da vacina em toda a população e a comercialização do imunizante. A vacina alvo do registro definitivo é aquela produzida pela Fiocruz com IFA vindo do exterior. Caso a Fiocruz deseje registro para a produção 100% nacional, deverá encaminhar à Anvisa informações sobre o processo de fabricação do IFA no Brasil para avaliação.

AC oro naVac,d achinesa Sinovac Bio tech, produzida pelo Instituto Butantan, possui autorização emergencial e ainda aguarda a aprovação definitiva. O primeiro registro do tipo foi dado pela Anvisa para o imunizante da Pfizer, em 23 de fevereiro, mas ainda não há acordo da farmacêutica com o governo federal ou distribuição de doses no Brasil. Os técnicos da agência explicaram que a suspensão temporária de um lote da vacina de Oxford em alguns países após casos suspeitos de reações adversas, não é preocupação para o Brasil:

— Cinco países fizeram a suspensão do lote que poderia estar relacionado aos eventos adversos de formação de coágulo. Esse não foi um lote que veio para o Brasil. São dois processos (de produção) diferentes — explicou Helaine Carneiro Capucho, gerente de farmacovigilância da Anvisa.

RENDESIVIR APROVADO

A Anvisa também anunciou ontem que o medicamento antiviral Remdesivir (que, no Brasil, será comercializado com agrafia Rende si vir) foi aprova dopara o tratamento da Covid-19, inclusive com indicação na bula. O remédio, administrado de maneira intravenosa, foi uma das substâncias utilizadas no tratamento do ex-presidente americano Donald Trump e já foi aprovado pelo FDA, equivalente nos EUA à agência brasileira. O medicamento será usado apenas em hospitais e em pacientes hospitalizados para impedir a replicação do vírus. Estudos citados pela Anvisa mostram que pacientes que receberam Rendesivir apresentaram menor tempo de recuperação. Segundo a agência, o medicamento é seguro e bem tolerado.

Em outubro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o Rendesivir ineficaz contra a Covid-19, juntamente com outros medicamentos, como a hidroxicloroquina. Na ocasião, a organização afirmou que o Rendesivir não mostrou redução da mortalidade dos pacientes.