O Globo, n.31995 , 13/03/2021. Mundo, p.22

 

Aécio se contrapõe a Eduardo Bolsonaro em comissão

Bruno Goés

13/03/2021

 

 

Tucano assume órgão da Câmara e defende multilateralismo; deputado do PSL elogia herdeiro saudita acusado de mandar matar jornalista

Eleito presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, o tucano Aécio Neves (MG) indicou, ao tomar posse, que pretende fazer um contraponto à política externa do governo Jair Bolsonaro enquanto estiver à frente do colegiado. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), por sua vez, deixou o posto agradecendo ao príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, acusado de ordenar o assassinato do jornalista dissidente Jamal Khashoggi, e ao premier húngaro de ultradireita, Viktor Orbán, cujo governo, segundo ele, é “referência em várias áreas”. Aécio pregou “respeito, tolerância e equilíbrio” nas relações internacionais, além de condenar políticas guiadas por “preconceitos ideológicos”. O deputado também reforçou que o país deve atuar para preservar o multilateralismo, orientação rechaçada pelo chanceler Ernesto Araújo.

— A diplomacia brasileira tem longa tradição de respeito, de tolerância e equilíbrio. Esses preceitos e valores necessitam a cada dia ser reforçados — disse Aécio, para quem a política externa deve levar em conta “análises rigorosas” da conjuntura internacional:

— (Isso deve acontecer) para a promoção dos nossos interesses nacionais, isento de quaisquer preconceitos, sejam eles ideológicos ou partidários. Enquanto era presidente do colegiado, Eduardo aproveitou para se aproximar de populistas de extrema direita na Europa. Além disso, defendeu um alinhamento automático a Donald Trump, mesmo em período eleitoral nos EUA, que resultou na ascensão do democrata Joe Biden ao poder. Em seu discurso de despedida, Eduardo disse que realizou viagens ao Oriente Médio, onde, segundo ele, contribuiu “para o melhoramento substancial de nossas relações não apenas com Israel, mas também com os países árabes”.

HUNGRIA DE ORBÁN É CITADA

O filho do presidente também agradeceu a “proatividade” de vários embaixadores. E destacou o papel especial da diplomacia da Hungria.

— Também agradeço a deferência do chanceler da Hungria, Péter Szijjártó, e o premier Viktor Orbán, que tão bem me receberam em minha visita à Hungria, país que, para mim, é referência em várias áreas.

Aécio disse ainda que, na primeira reunião da comissão, vai apresentar requerimentos para convidar Araújo e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo. O objetivo é que apresentem o “planejamento de suas ações”.

—A política externa brasileira deve ter como foco o multilateralismo, nosso relacionamento internacional há de ser amplo, universal, sem exclusões ou alinhamentos automáticos. O tucano também reforçou a necessidade de o Brasil valorizar o diálogo para o enfrentamento da pandemia de Covid-19.