Título: Bush sobe o tom contra Síria
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 03/03/2005, Internacional, p. A7

Dizendo falar pela comunidade internacional, presidente americano faz apelo enérgico pela retirada de tropas do país

WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, George Bush, advertiu a Síria ontem, de maneira enérgica, para que abandone o Líbano e acrescentou que a comunidade internacional concorda que a interferência deve acabar já.

- O mundo fala com uma só voz quando tenta assegurar que a democracia tem a oportunidade de crescer no Líbano - afirmou o presidente.

Bush elogiou a mensagem conjunta enviada a Damasco pela secretária de Estado, Condoleezza Rice, e o ministro de Assuntos Exteriores francês, Michel Barnier, na terça-feira. Ambos exigiram que os sírios retirem do país vizinho seus 14 mil soldados e os agentes do serviço secreto. Rice chegou a afirmar que a Síria representa um ''obstáculo'' para o crescimento no Oriente Médio.

Em uma entrevista à revista Time, o presidente sírio, Bachar al Assad, afirmou que seu país vai retirar os soldados do Líbano ''nos próximos meses''. Mas a promessa foi recebida com ceticismo.

- Chegada esta etapa, queremos de Assad uma declaração oficial relativa à retirada das tropas e um cronograma da saída dos serviços secretos sírios do Líbano - disse o deputado Ahmad Fathat, que leu um comunicado depois de uma reunião da oposição libanesa.

A nota, lida após três horas de debate na residência do líder druso, Walid Jumblatt - recluso por temer atentados - indica ainda que a oposição ''vela pela manutenção do caráter pacifico e democrático'' de seu movimento e que ''o povo libanês concorda com uma saída honrosa da Síria e promete manter relações fraternais, de amizade e cooperação''.

- Não precisamos de retórica, mas de ação. Nem o governo (dos EUA) nem o povo libanês vão acreditar em qualquer coisa que não seja o que virmos com nossos olhos - disse David Satterfield, membro do Departamento de Estado que visitou o Líbano esta semana.

A França - co-autora com Washington da resolução 1559 do Conselho de Segurança da ONU, exigindo o fim da interferência estrangeira no Líbano - também reiterou a necessidade de que Assad transforme suas palavras em ação.

- Todos nós estamos comovidos pelo que está acontecendo hoje em Beirute, pelas manifestações diárias, corajosas e dignas, feitas pelo povo libanês, que simplesmente exige liberdade e sua soberania - disse o chanceler Barnier.

Nas ruas, dirigentes de todas as formações de oposição continuaram ontem os protestos, que já levaram à renúncia do primeiro-ministro pró-sírio, Omar Karami. Eles querem que Assad anuncie oficialmente, com um calendário preciso, a repatriação das tropas e do serviços de Inteligência. Também exigem a renúncia imediata do procurador da República e de seis responsáveis pelos serviços de segurança.

A oposição alega que somente a saída destas autoridades pode garantir uma investigação imparcial do assassinato do ex-primeiro-ministro Rafik al Hariri, morto em um atentado atribuído à Síria.

Pressionado por todos os lados, Assad deve ir à Arábia Saudita nas próximas 48 horas para discutir a retirada militar, publicou o jornal saudita Al Riad. Analistas e diplomatas afirmaram que o presidente vai procurar ajuda de países árabes amigos - que seriam também aliados dos EUA - na tentativa de diminuir a pressão americana.