Título: Juiz que atuava no caso Saddam é morto
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Fonte: Jornal do Brasil, 03/03/2005, Internacional, p. A7
Magistrado tinha sido torturado durante regime
BAGDÁ - Um juiz do Tribunal Especial Iraquiano (TEI) encarregado de julgar os dirigentes do antigo regime - entre eles o ex-ditador Saddam Hussein - foi assassinado na noite de terça-feira junto com seu filho, também funcionário do tribunal. Os dois foram atingidos quando saíam da casa onde moravam, na capital, Bagdá. Barwize Mohamed Marwan,de 59 anos, e Kikawz Barwez Mohammed, de 26 anos, estavam entre os mais ativos integrantes do tribunal.
O juiz também era membro consagrado da União Patriótica do Curdistão, um dos maiores partidos políticos curdos e tinha sido preso e torturado quando jovem pelo regime de Saddam.
- Ele sabia que este era um trabalho perigoso e que poderia ser morto - disse Mariwan, outro filho do magistrado.
Vários juízes de tribunais civis e criminais iraquianos - que já não têm a identidade revelada à população por questões de segurança - foram assassinados nos últimos meses, mas essa é a primeira vez que as vítimas têm ligação com o processo contra Saddam.
Na segunda-feira, um especialista ocidental da área jurídica já havia alertado que as atividades do tribunal iraquiano estão sendo prejudicadas pelas ameaças contra seus membros. No dia seguinte, desconhecidos dispararam três vezes contra outro juiz sem vínculos com o TEI, Wayed al Jadr, ferindo-o gravemente.
Criado pela coalizão liderada pelos Estados Unidos em dezembro de 2003, o TEI se encarrega de processar pessoas suspeitas de ''genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e violações das leis iraquianas''. Apenas no julgamento do ex-ditador iraquiano trabalham 50 promotores e juízes.
Depois do anúncio dos assassinatos, na manhã de ontem, dois carros-bomba explodiram em Bagdá matando outras 12 pessoas. O primeiro ataque teve como alvos voluntários que tentavam se alistar no Exército. Oito morreram e 28 ficaram feridos. O segundo, que matou quatro soldados e ocorreu uma hora depois, foi realizado em frente a uma base militar local.
O grupo do terrorista jordaniano Abu Musab al Zarqawi, que mantém vínculos com a rede terrorista Al Qaeda, reivindicou a autoria do primeiro atentado. A informação foi divulgada na internet, mas sua autenticidade não chegou a ser confirmada.
''Hoje é um dia de combate e nossos irmãos vão receber uma notícia muito feliz. A chuva sempre começa com uma gota'', diz o comunicado.
No mesmo dia, o chefe do Partido Democrata Cristão iraquiano, Minas Ibrahim al Yusufi, que tem nacionalidade iraquiana e sueca e é mantido refém pelos rebeldes, implorou por ajuda numa gravação de vídeo.
- Peço aos homens honestos de todo o mundo e do Iraque, ao rei da Suécia e a Sua Santidade o Papa João Paulo II que atuem para me salvar a vida - disse.
Dois dias após o atentado que deixou 135 mortos e 170 feridos na cidade de Hilla, 100 km ao Sul de Bagdá, duas organizações sunitas, o Comitê dos Ulemás e o Partido Islâmico, condenaram o ataque que também foi reivindicado pelo grupo de Zarqawi.
''Declaramos que estas ações terroristas que consistem em matar inocentes estão proibidas pela religião, independentemente dos autores ou dos motivos'', destaca num comunicado o Comitê dos Ulemás, a principal organização sunita.