Título: Internação vai alterar ritos
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Fonte: Jornal do Brasil, 03/03/2005, Internacional, p. A8

Papa melhora rápido, mas não deve participar das cerimônias da Semana Santa

ROMA - A recuperação do papa João Paulo II, que há uma semana foi submetido a uma traqueostomia para aliviar uma forte crise respiratória, se encaminha melhor do que o esperado. Segundo o cardeal alemão Joachim Meisner, que visitou o pontífice ontem, no hospital Gemelli, em Roma, a voz do papa ''está mais forte do que poderíamos imaginar''. Na segunda-feira, o Sumo Pontífice começou a fazer fisioterapia local e ontem conversou em italiano e alemão com o cardeal Joseph Ratzinger.

Outro indício de melhora foi confirmado por fontes do Vaticano. Segundo estes informes, o papa teve um ''encontro de trabalho'' com o Substituto da Secretaria de Estado, o arcebispo argentino Leonardo Sandri.

Diante da incerteza sobre a volta do Santo Padre ao Vaticano, a Santa Sé planeja alternativas para a os ritos da Semana Santa, que começa em 20 de março, com o Domingo de Ramos, e termina no dia 27, com o Domingo de Páscoa e a benção urbi et orbi (a cidade e o mundo) do papa. Este é o período do ano mais importante para os católicos, pois lembra os últimos dias de Cristo e sua ressurreição.

Para um dos momentos culminantes da Semana Santa, a Via Crucis noturna da Sexta-Feira da Paixão, o Vaticano trabalha com três hipóteses, dependendo da localização de João Paulo II, segundo o jornal Il Manifesto. Se o papa ainda estiver internado, poderia acompanhar as cerimônias pela TV e sua imagem seria projetada em telões perto do Coliseu, caminho da Via Crucis. O mesmo acontecerá se o pontífice já estiver no Vaticano, mas sem as forças necessárias ou a autorização médica para participar ativamente dos ritos.

Porém, se estiver no Vaticano e desejar participar, a marcha poderia ser excepcionalmente transferida para a Praça de São Pedro. Ontem, quarta-feira, era o dia da tradicional audiência semanal - quando católicos do mundo inteiro vão ao Vaticano para serem abençoados. Mas sabendo que João Paulo II não está lá, poucos fiéis foram ao local.

- A presença dele é importante - disse um vendedor de rua, que comercializa rosários e cartões postais com imagens da Basílica de São Pedro.

Centenas de fiéis, em sua maioria poloneses, se concentraram na entrada do Gemelli com a esperança de que o Papa fosse à janela, como fez no domingo, no Ângelus. O Pontífice não repetiu o gesto, mas ouviu os cânticos, as orações e os ''vivas'' que os peregrinos entoaram durante mais de duas horas.

Não há previsão para a alta, mas médicos disseram que o papa ainda pode viver muitos anos, desde que se recupere com calma e que reduza seus compromissos. A dúvida agora diz respeito à ao tempo que João Paulo II continuará com a traqueostomia. O professor Roberto Filipo, otorrinolaringologista da Universidade Sapienza, em Roma, crê que os médicos querem tirar o tubo o quanto antes.

- A traqueotomia proporciona alívio no curto prazo, mas pode causar complicações depois de um longo período porque aumenta o risco de infecções - afirmou.

Mas outros especialistas crêem que a permanência do dispositivo permitiria manter os pulmões do pontífice limpos, além de lhes dar um acesso de emergência se a respiração falhar. Os pacientes de Parkinson perdem o tônus muscular, tornando difícil expectorar ou engolir, o que pode fazer com que a comida entre nas vias aéreas e cause infecções.