O Globo, n.31998 , 16/03/2021. Sociedade, p.10

 

Sob pressão

Renata Mariz

Paula Ferreira

16/03/2021

 

 

Pazuello anuncia compra de vacinas da Plizer e da Johnson e defende sua gestão

Pressionado no cargo, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que deve deixar o cargo hoje, anunciou ontem a contratação de 100 milhões de doses da vacina da Pfizer e de outros 38 milhões de doses do imunizante da Johnson & Johnson.

O comunicado da contratação ocorre em meio à confirmação da saída de Pazuello do ministério. Até a noite de ontem, ele não havia sido exonerado, embora o presidente Jair Bolsonaro já tenha anunciado o cardiologista Marcelo Queiroga como seu substituto. Pazuello estaria desgastado devido ao aumento no número de casos e mortes pela Covid-19 e à lentidão da campanha de imunização.

Nos últimos dias, ele também apresentou pelo menos quatro cronogramas divergentes sobre a disponibilização de doses para março, irritando o Congresso. Ontem, na entrevista coletiva em que divulgou a assinatura dos contratos, procurou defender sua gestão:

—O cronograma é para ser alterado quando a farmacêutica não entrega, quando a linha de produção para, quando acontece qualquer dificuldade na legalização das doses. E quanto mais tivermos no começo do processo, mais alterações podem acontecer.

Questionado sobre as providências da pasta em relação à falta de oxigênio nos hospitais de Manaus, no início do ano, afirmou:

—Senhores, deixa eu deixar uma coisa clara aqui. Faço primeiro uma pergunta a todos os brasileiros: o que o Ministério da Saúde tem a ver com produção, transporte, distribuição e logística de oxigênio? Vocês têm que perguntar a vocês mesmos. O ministério é o cliente do oxigênio, paga pelo oxigênio, coloca recurso em secretarias de Estado de Saúde para que o oxigênio seja fornecido. O resto não é nossa obrigação, mas nós ajudamos. E continuou:

—No momento em que nós tomamos conhecimento de risco de falta, a gente leva isso para que seja tratado. E estamos o tempo todo trabalhando juntos. O governo federal inicia uma ponte de oxigênio na quinta-feira para Rondônia, com a FAB. E na sequência, Acre, se necessário.

MAIS UM CRONOGRAMA

Conforme os cálculos de Pazuello, que levou em consideração as vacinas de vários laboratórios, o ministério contará com 562 milhões de doses em 2021.

— Essas vacinas e laboratórios já estão contratados. Sim, eu estou informando à população que nós já concluímos a contratação da União Química da Sputnik, da Pfizer e da Janssen

Todas essas contratações foram finalizadas a partir da lei que foi sancionada, se não me engano, quarta-feira da semana passada. Só para que os senhores compreendam a velocidade administrativa desse trabalho — afirmou o ministro.

— A partir da lei, sancionada  na quarta-feira, hoje, segunda-feira, estou informando que já fizemos essas contratações completas, com tudo que foi solicitado em termos de cláusulas.

A lei mencionada por Pazuello foi aprovada pelo Congresso e sancionada por Bolsonaro, estabelecendo, entre outros pontos, que o governo e outros entes federativos podem assumir responsabilidades jurídicas relacionadas a efeitos adversos do uso das vacinas, isentando as empresas. Este era um ponto sensível nas discussões e chegou a emperrar as tratativas com os laboratórios Pfizer e Johnson & Johnson.

Segundo o cronograma apresentado ontem, 75% das doses contratadas da Pfizer só chegarão em agosto e setembro. A entrega está escalonada da seguinte forma: 1 milhão em abril, 2,5 milhões em maio, 10 milhões em junho, 10 milhões em julho, 30 milhões em agosto e 45,5 milhões em setembro.

No caso da vacina da Johnson/Janssen, são 16,9 milhões de doses em agosto e 21,1 milhões em novembro. A única vacina que ainda aparece no cronograma “em tratativa” é a da Moderna, com previsão de 13 milhões de doses. Segundo Pazuello, o imunizante será adquirido quando as negociações chegarem “a um preço que possamos pagar”.

- Ele afirmou ainda que a produção nacional pela Fiocruz do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), matéria-prima da vacina de Oxford, que o governo federal apoia, começará em abril e se consolidará em maio, o que dará autonomia para o país. A previsão é produzir 22 milhões de doses por mês, de agosto a dezembro. E disse que avinda do IFA da China para fazer a vacina de Oxford na Fiocruz sofreu atraso sem que o governo brasileiro tenha conseguido saber o motivo.  — E por isso que perdemos um pouco o início (da agilidade esperada da vacinação no mês) de fevereiro com a Fiocruz —afirmou.

Ontem, representantes da farmacêutica Precisa, parceira do laboratório indiano Bharat Biotech na produção da vacina Covaxin, reuniram-se com a Anvisa para receber orientações sobre a requisição de uso da vacina, mas ainda não entregaram a documentação para obter autorização para uso emergencial ou registro dela. Mesmo assim, o Ministério da Saúde recolocou a previsão de 8 milhões de doses do imunizante para serem entregues ainda em março. Pazuello admitiu que a previsão pode ser alterada mais uma vez.

Ele acrescentou ainda que o Sistema Unico de Saúde será posto à prova neste ano. Em outra ocasião, há cerca de duas semanas, Pazuello havia garantido que o SUS não entraria em colapso. 

—O SUS não colapsou em 2020 e será colocado ã prova em 2021. Para vencermos a batalha nesse novo ciclo, precisamos estar unidos e focados no mesmo propósito, o de salvar cada vez mais vidas — concluiu.