O Globo, n.32000 , 18/03/2021. Sociedade, p.9

 

Um freio para a epidemia

Rafael Garcia

18/03/2021

 

 

Lockdown é eficaz, mas, sem apoio federal, e desafio

No momento em que o país enfrenta, segundo a Fio cruz, o maior colapso sanitário e hospitalar da história do país, municípios e estadospautar pelo sucesso do lockdown em experiências dentro eforado Brasil. Existe farta evidência de estudos científico sindicando que a medida funciona bem para freara epidemia. Mas especialistas afirmam que será um desafio adotar uma estratégia impopular de forma ampla no país se prefeitos e governadores não tiverem apoio do governo federal para tal.

Com mais cidades considerando medidas extremas para conter a disseminação da Covid-19, seu gestores se colocam em conflito direto com o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para quem o lockdown “não pode ser política de governo” e só deve ser usado em “situações extremas”. Além de Araraquara (SP), que implementou a estratégia com sucesso, adotaram esta semana medidas duras Belém (PA), São José do Rio Preto (SP), Ribeirão Preto (SP) e o estado de Minas Gerais .

Aplica-se o nome “lockdown ”tipic amente apolíticas que exigem toque de recolher, fechamento do comércio e operação controlada apenas de setores essenciais, como alimentação e a própria saúde. Nesse sentido, um ponto crucia léa adesão da população.

Onde a estratégia deu certo, houve um discurso único do poder público sobre a importância do distanciamento para estimulara adesão, reforçado por medidas punitivas para quem violasse restrições. No Brasil, especialistas apontam que gestores públicos podem ter de contar mais coma coerção doque com adesão voluntária.

Em Araraquara, o prefeito Edinho Silva (PT) conseguiu fazer valera regrado lockdown com apoio do governador João Do ria( PSD B ). Segundo especialistas, no entanto, não está claro o quanto isso será possível em outros municípios do país.

— Aparentemente, (pelo  menos) uns 30% do país estão convencidos de que podem seguira “vida normal ”. Vai ser difícil convencê-los do contrário agora — diz o sanitarista Claudio Maierovitch, pesquisador da Fiocruz de Brasília, fazendo uma relação com o número de apoiadores do governo Bolsonaro em pesquisas recentes.

—Assim, medidas coercitivas serão (provavelmente) necessárias, inclusive com força policial e aplicação de multas.

CONCEITO DIFUSO NO BRASIL

No Brasil, é tênue a distinção entre lockdown e medidas duras de confinamento que recebem outros nomes. O governo mineiro, por exemplo, usa a expressão “fase roxa” para descrever sua nova estratégia de restrições de circulação.

Alberto Chebabo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, aponta que faz sentido existirem graus variados de severidade do lockdown, que pode ser ampliada passo a passo, de acordo com gravidade da pandemia.

—O lockdown é a última medida. Não é a única, ma sé uma medida salvadora de resgate quando você não tem mais o que fazer. Seria (hoje) o ideal para cidades como Porto Alegre, por exemplo, que está à beira do colapso.

Alguns países, como Austrália e Nova Zelândia, adotaram lockdowns para frear o vírus até mesmo antes de a situação fi cartão dramática.

Para a infectologista Raquel Stucchi, da Unicamp, o número recorde de mortes no Brasil (2.798 anteontem) inspira urgência. Ela também pondera, contudo, que o cenário político é um complicador, pois o governo federal espera que estados e municípios arquem com a impopularidade de decretar as medidas mais drásticas de isolamento.

ONDE DEU CERTO

Araraquara, que teve duas semanas de lockdown, conseguiu frear a epidemia. Registrou queda de 50% na transmissão do vírus, de 43% na média de casos diários e de 28% em novas internações. Apesar disso, a taxa de ocupação dos leitos de UTI para Covid-19, no entanto, continuou alta, na casa de 94%, porque o tempo de internação de muitos pacientes é longo.

A experiência mostra que pode ser necessário período demais duas semanas de lockdown emo utros lugares para que o sistema de saúdes edesafogue. Dado o ciclo de infecção da doença, o período de 15 dia sé o mínimo para ques e comece a avaliara situação.

— Infelizmente, quanto mais tempo de lockdown, mais ele funciona —diz Maierovitch, da Fiocruz. — Depois, a ideia é que as atividades sejam reativadas gradativamente, avaliando se alguma delas disparou novamente uma transmissão intensa.

No entanto, frisa o sanitarista, isso exige um esforço dearticulação de estados e municípios coma União:

— Não dá para fazer lockdown sem governo para realizar um monitoramento do que acontece para poder calibrara voltada satividades.

Outra dificuldade é convencer o setor produtivo de que a medida compensa em longo prazo. Em outras pandemias, como na gripe espanhola de 1918, o lockdown foi adotado, e há evidência de que foi benéfico para a economia dos países que o implementaram.

— Cidades que fecharam precocemente a atividade econômica naquela época controlaram a pandemia e tiveram recuperação mais rápida e maior do que as que demoraram a fechar, e arrastaram a pandemia por tempo muito maior —diz Chebabo.

O Brasil, diz, caminha para se encaixar no segundo caso, enquanto australianos e neozelandeses já colhem o benefício do fechamento precoce.

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Municípios de SP fazem restrições mais rígidas que estado

Cleide Carvalho

Giuliana de Toledo

18/03/2021

 

 

Prefeituras de cidades como Ribeirão Preto e Campinas adotam medidas isoladas para combater a crise da Covid-19

Cerca de 30 municípios paulistas optaram por adotar medidas mais restritivas que as do governo de São Paulo para conter o avanço da Covid-19. A informação é do secretário de Desenvolvimento

Regional do Estado de São Paulo, Marco Vinholi, que defende regras mais rígidas impostas pelas prefeituras de cidades como Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Campinas, Jaboticabal, Pirassununga, Orlândia, Batatais, Lins e Araraquara.

— Ficou pacificado que os municípios têm a competência suplementar, podendo ser mais restritivos do que o governo do estado nas suas medidas. Se naquela localidade verifica-se a necessidade de agir para poder intensificar essas ações, então assim devese fazer —afirmou Vinholi.

Terceiro maior município paulista, com 1,2 milhão de habitantes, Campinas adotou regras mais rígidas, que entramem vigor hoje, mas o prefeito Dário Saadi (Republicanos) propôs em reunião virtual com prefeitos da Região Metropolitana de Campinas, que reúne 20 municípios, para adoção conjunta de medidas restritivas. Uma nova reunião foi marcada para amanhã.

Em Campinas, haverá toque de recolhera partir das 20h. O comércio de alimentos deve encerrar as atividades até as 20h, em regras que vigoram até o fim do mês. Desde ontem, Ribeirão Preto está sob apolítica de lockdown, válido até o próximo domingo. Em Jaboticabal, nos próximos cinco dias, supermercados, restaurantes, açougues e padarias só farão delivery. Na Baixada Santista, os municípios bloquearam o acesso às praias para inibir o turismo.

No Sul do país, as restrições também são reforçadas. No Paraná, a Justiça Federal autorizou ontem a instalação de barreiras na BR-277, para bloquear acessos às praias por turistas. No Rio Grande do Sul, que segue em bandeira preta, o governador Eduardo Leite (PSD B) disseque os municípios pode ms ermais restritivos. Em Florianópolis, os serviços não essenciais encerram a satividades às 18h, até o dia 23.