Título: Bolívia quer reverter corte de gás
Autor: Pacheco, Natalia
Fonte: Jornal do Brasil, 09/01/2009, Economia, p. A18

Ministro vem ao ao Brasil para negociar redução do volume impor tado pela Petr obras

O ministro do Planejamento e Desenvolvimento da Bolívia, Carlos Villegas, vai discutir a redução do volume do gás natural importado pela Petrobras com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. A reunião está marcada para as 16h, após o encontro do Conselho de Monitoramento do Sistema Elétrico (CMSE), que vai definir o volume do corte. O contrato firmado entre o governo boliviano e a estatal brasileira em 1999 prevê o pagamento de 80% do volume do combustível, mesmo se a empresa não consumir o total contratado.

De acordo com esse cálculo, a Petrobras pode reduzir a importação do insumo de 30 milhões de m3/dia para 24 milhões de m³/dia na média anual, mas na média mensal, a petroleira pode reduzir o volume para até 19 milhões de m³/dia sem pagar um centavo a mais. Se o corte ultrapassar esse limite, a empresa paga um preço diferente pelo combustível, em torno de US$ 9/milhão de BTU. Seja qual for o volume do corte definido, de 6 milhões de m³/dia ou de 11 milhões de m³/dia, isso impactará a produção de gás da Bolívia, que tem o combustível como a maior fonte de renda do país. A Argentina também recebe o gás boliviano (7 milhões de m³/dia), mas não deverá incorporar essa sobra da Petrobras por causa da redução do consumo de energia no país em função da crise financeira internacional.

Briga antiga

Outra reivindicação da Bolívia é o preço do gás pago pela Petrobras. Representantes do governo do país vizinho alegam que o valor está muito abaixo do mercado. Mas essa discussão é antiga e a fórmula usada para o cálculo está definida no contrato, que tem duração de 30 anos, e por isso não deve ser mudada. Além disso, a tendência é de queda nos preços do combustível em todo o mundo por causa da redução de mais de 70% do barril de petróleo nos últimos meses. Representantes do setor já acreditam que o preço caiu cerca de 20%, para US$ 7,50/milhão de BTU. O consultor da Gas Energy, Marcos Tavares, prevê que a queda será ainda maior no próximo reajuste trimestral, que acontece no dia 1º de abril. Acredita que o gás boliviano chegará a US$ 5/milhão de BTU se o barril continuar no patamar dos US$ 40. ­ Na verdade, esse preço pode cair ainda mais. Se o petróleo passar para US$ 30, a Petrobras poderá comprar esse gás por US$ 4/milhão de BTU ­ explicou Tavares.

O Brasil é o principal cliente do gás da Bolívia, que produz cerca de 40 milhões de m³/dia. Desse volume, 30 milhões estão contratados pela Petrobras e o restante é negociado com a Argentina e usado no consumo próprio dos bolivianos. ­ A Bolívia está tentando evitar uma queda brusca da receita do país, porque além do corte da Petrobras, o preço do combustível vai cair ainda mais ­ destacou o consultor da Gas Energy. O CMSE decidiu desligar as termelétricas movidas a gás natural do país por causa do elevado nível dos reservatórios das hidrelétricas. A previsão do setor é que as usinas sejam religadas em abril, após o período chuvoso. Quando as termelétricas voltarem a operar, a Petrobras deverá retomar a importação de 30 milhões de m³/dia de gás natural do vizinho andino. A Petrobras retomou ontem a produção da plataforma P-34, que estava parada desde domingo, após acidente que causou a morte de um funcionário e deixou dois feridos. A unidade é a primeira do pré-sal.