Título: Paz
Autor: Claudio Fonteles
Fonte: Jornal do Brasil, 03/03/2005, Outras Opiniões, p. A11

A Campanha da Fraternidade para este ano de 2005 convoca todos os cristãos ao empenho pela Paz. Mas o que é a Paz? Há alguns anos, num debate, quando assim questionado, o pensador católico Alceu de Amoroso Lima respondeu: ''a Paz é o equilíbrio no movimento''. Sábia resposta. A Paz não é ausência; não é alheiamento; não é conformismo. A Paz está no movimento; é encontrada na ação; é descoberta na luta diária; na dinâmica da vida.

Jesus Cristo, o artífice da Paz, é o peregrino, por excelência. Caminhou sempre, apresentou-se como o Caminho, tanto assim é que, após a sua morte, seus seguidores não se intitularam cristãos, ou católicos, nomes que surgem depois, mas ''os do caminho''.

A Paz é, portanto, envolver-se. Primeiramente, consigo mesmo, adotando e experimentando processo de reflexão diária sobre o que estamos a fazer para que sejamos, verdadeiramente, pacíficos. Depois é envolver-se com o próximo - a experiência da alteridade -, que está tão próximo, no ambiente familiar: a mulher, o marido, a mãe, o pai, a filha, o filho, a avó, o avô. Temos espaço para nos sentarmos e dialogarmos com estas pessoas, ou os afazeres nos automatizam, nos insensibilizam, nos consomem, e cada um de nós entra e sai de casa, sequer expressando um bom-dia?

Ainda, e porque a Paz é movimento, devemos nos envolver com o próximo, que é também próximo, porque somos seres políticos, como dizia Aristóteles, ou seja, somos seres comunitários. Polis, em grego, significa cidade, como sabemos. Igreja (ecclesia, em grego) quer dizer assembléia; reunião. Portanto, a Paz é construída na vivência comunitária.

Somos diferentes uns dos outros, não somos cópias. Por isso o Deus-Amor criou-nos livres; criou-nos e cria-nos, infinitamente, e infinitamente livres. No âmbito da liberdade, comunicamo-nos. A Paz também aí, no confronto das idéias, das idiossincrasias pessoais, é o objetivo a ser perseguido. Por isso, a conformação ecumênica que a Campanha da Fraternidade deste ano de 2005 apresenta, quando nos unimos, nós católicos, a outros irmãos e irmãs de confissões outras, cristãs, é alento, passo real e claro a demonstrar que no movimento o encontro é possível, para os que promovem a Paz.

Minha irmã, meu irmão, é Tempo de Quaresma, reflexão para a ação, deixe, como a gota de chuva benfazeja, que se movimenta, e movimenta a aridez do terreno, cair em você a pergunta - o que, de concreto, faço em favor da Paz, e o que posso, ainda, fazer? - e movimente-se para tornar real a sua resposta.

Paz e Bem!