O Globo, n.32006 , 24/03/2021. Sociedade, p.11

 

Capacidade de produção de ‘kit intubação’ está no limite

Leandro Prazeres

24/03/2021

 

 

Diagnóstico da crise no pais é de diretora da Anvisa, que se reuniu ontem com a Comissão Externa da Câmara dos Deputados

A diretora da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Meiruze Sousa Freitas disse ontem que a capacidade da indústria nacional para a produção de medicamentos usados no processo de intubação está no limite. A declaração foi dada durante uma reunião da Comissão Externa da Câmara dos Deputados que acompanha as ações de combate à Covid-19 e que discutiu a escassez do chamado “kit intubação”.

Segundo Freitas, algumas indústrias voltaram sua produção inteiramente para a fabricação dessesme dicamentos, mas isso pode acabar gerandofalta de outros produtos.

— As empresas estão no limite de produção. Algumas aumentaram em quatro ou sete vezes, e há empresas que dedicaram toda a produção aos medicamentos de intubação orotraqueal, e isso também é um problema, porque há risco de desabastecimento de outros medicamentos de linha.

A reunião foi convocada após diversos estados relatarem ao governo federal que o aumento no númerode internações causadas pela Covid-19 no início deste ano levou à redução nos estoques de anestésicos utilizados no processo de intubação de pacientes graves da doença. Diante da crise, o Ministério da Saúde anunciou, na semana passada, a requisição administrativa de medicamentos que estavam em estoque nas indústrias.

Freitas afirmou que, além das requisições administrativas feitas pelo Ministério da Saúde, a Anvisa também adotou medidas para aumentar o estoque disponível dos medicamentos, como a redução do período de tempo que os produtos teriam que esperar nos galpões das fábricas antes de serem liberados para uso. O tempo, de 15 dias, passou a ser de uma semana.

—É horrível saber que pessoas, neste momento, nos hospitais, estão sem acesso a assistência básica. Porque ter acesso à analgesia é assistência básica. Peço desculpas pela emoção —disse a diretora, com voz embargada.

Na audiência, as requisições administrativas feitas pelo governo foram criticadas por representantes dos farmacêuticos.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), Nelson Mussolini, disse que as requisições podem prejudicar o abastecimento de hospitais particulares que também têm as UTIs lotadas.

— Vai vestir um santo e despir vários outros. Temos que tomar muito cuidado com isso —disse Mussolini.

Ontem, o Ministério da Saúde disseque entregará 2,8 milhões de unidades de medicamentos de intubação orotraqueal (IOT) para todo o país. De acordo coma pasta, os insumos estarãonos estabelecimentos de saúde em menos de 72 horas. Uma das empresas fornecedora sé a União Química, coma qual o governo tem contra topara aquisição de doses da vacina Sputnik V.

Não houve representantes do Ministério da Saúde na reunião. A deputada Carmen Zanot to( Cidadania-SC) disse que o secretário de Atenção Especializada em Saúde do ministério, Luiz Otávio Franco Duarte, teria sido convidado. Procurada pelo GLOBO, a pasta não se manifestou sobre a ausência, criticada pelos presentes à reunião. “É lamentável”, disse o 1º vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PR-AM).