O Globo, n.32006 , 24/03/2021. Economia, p.20

 

Guedes se opõe à nomeação de Pazuello para PPI

Jussara Soares

Manoel Ventura

24/03/2021

 

 

Ministro da Economia busca barrar alteração no comando do órgão responsável por concessões e privatizações. Técnicos do governo avaliam que essa mudança seria malvista pelo mercado

De saída do Ministério da Saúde, Eduardo Pazuello foi cogitado para ganhar o comando da Secretaria Especial do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), sem status de ministro e, portanto, sem foro privilegiado. Mas o movimento esbarrou na oposição do ministro da Economia, Paulo Guedes, que, até a noite de ontem, havia conseguido barrar as tratativas.

Dentro do plano para entregar o PPI a Pazuello, o órgão, hoje subordinado ao Ministério da Economia, seria transferido para a SecretariaGeral da Presidência, comandada por Onyx Lorenzoni —patrocinador da ideia.

O PPI é responsável pelas concessões e parcerias entre o governo e a iniciativa privada. Nele foram incluídas ainda as principais privatizações prometidas pelo governo Jair Bolsonaro, como Eletrobras, EBC e Correios.

As privatizações estão no centro da agenda liberal defendida por Guedes. Ver o PPI transferido para a Secretaria-Geral da Presidência significaria o risco de descaracterizar o órgão.

DISPUTA DE ONYX PELO PPI

Técnicos do governo avaliam que a ida de Pazuello para o PPI seria malvista pelo mercado e poderia indicar a falta de prioridade do governo para com as concessões e privatizações. O ponto levantado pelos técnicos não está necessariamente ligado à capacidade de gestão do general, mas ao fato de o PPI já ter uma carteira vasta, com muitos leilões previstos para os próximos meses. Por isso, avaliam os técnicos, é preciso ter alguém familiarizado com o assunto e respeitado pelo mercado no comando do programa.

Outro problema apontado por auxiliares de Guedes é onde o PPI ficaria subordinado. A possibilidade do PPI ir para a Secretaria-Geral poderia reeditar conflitos com o Ministério da Economia registrados em 2019. Naquele ano, quando Onyx era titular da Casa Civil e o PPI estava sob o seu guarda-chuva, eram comuns as disputas entre as pastas. Foi justamente para evitar um comando duplo das concessões e privatizações que Guedes defendia, desde a transição, que o PPI ficasse sob a sua pasta.

O argumento a favor da mudança era que o PPI atua com diversos ministérios e, portanto, seria melhor que ficasse no Palácio do Planalto, próximo a Bolsonaro.

Desde que voltou a despachar no Palácio do Planalto, no mês passado, Onyx trava uma disputa com Guedes pelo PPI. O órgão era vinculado à Casa Civil, quando era comandada por Onyx, mas foi transferida para Guedes em janeiro de 2020.

O novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tomou posse ontem em uma cerimônia reservada, que não constava da agenda oficial de Bolsonaro.

A exoneração de Pazuello foi publicada ontem no Diário Oficial, mas, até o fechamento desta edição, seu destino não havia sido divulgado.