Título: Obama e a hora da decisão econômica
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 10/01/2009, Opinião, p. A8
CRISE GLOBAL
O PACOTE DE ESTÍMULO anunciado pelo próximo presidente dos Estados Unidos é o retrato da situação em que a maior economia do mundo se encontra. Barack Obama fez o anúncio como cumprimento de uma promessa de campanha: baixar impostos como forma de garantir que cada família americana de classe média receba mais US$ 1 mil. Tal injeção, acredita, será capaz de estimular uma máquina emperrada a reagir à paralisia a que foi submetida nos últimos meses. O próximo presidente também deu o recado aos que se opõem à forma como imagina poder reerguer a América do tombo, afirmando que apenas uma ação incisiva nesse momento poderá evitar que o país passe anos mergulhado em uma recessão gravíssima. Afinal, os indicadores mais recentes mostram que o nível de desemprego no país atingiu o nível mais alto dos últimos 15 anos, tendo batido a casa de 7.2%. Ao todo, hoje, cerca de 4,61 milhões de americanos recebem o benefício do seguro-desemprego. Apenas no ano passado, os EUA viram desaparecer 2,8 milhões de postos de trabalho, algo que não ocorria desde 1945.
Obama assume ciente de que esse é o seu maior desafio. Tenta costurar a saída com um congresso reticente pelo volume da ajuda, que se reflete diretamente no aumento de um déficit público de estratosféricos US$ 1,2 trilhão. Os republicanos resistem pois o valor equivale a 8,3% do PIB, o que tem elevado a expectativa e a irritação do novo presidente. Disposto a não ceder ao jogo partidário afinal a preocupação com o déficit é uma forma de ocultar a responsabilidade de duas gestões republicanas desastrosas no espectro de uma crise que arrastou o mundo inteiro o novo presidente mandou um recado claro, argumentando que cada dia a mais de espera na aprovação significa mais famílias sem emprego, mais sonhos que não poderão ser realizados e, sobretudo, a sombra de uma situação de difícil reversão. Para quem sempre imaginou a América como a terra dos empreendedores, ouvir declarações dessa natureza e gravidade mostram que a bolha da bonança estourou muito em função da irresponsabilidade dos gestores políticos e econômicos. Os alertas estavam por toda parte desde a metade de 2006, mas foram ignorados.
A nova administração da Casa Branca não quer ou não pode perder tempo buscando os responsáveis pelo estado das coisas. Há mais urgência em atacar o problema e principalmente em convencer os republicanos que esse modelo é o menos traumático para reverter a desesperança que contamina milhões de americanos. Resistir a tal alternativa, sem ter proposto nada enquanto o estopim da bomba queimava visivelmente, é pura hipocrisia. A maior parte dos aliados de George Bush poderia tentar salvar a própria biografia, depois da débâcle deste fim de mandato, procurando cooperar na melhoria das propostas. Mas há uma resistência visível ancorada no risco de a medida ampliar o fosso em vez de aterrá-lo, como se a inércia pudesse ser a melhor
solução. Já se tentou isso antes e não houve resultado prático além de ampliar o número de famílias envolvidas na angústia e na incerteza. É importante lembrar também que a renúncia em impostos é uma saída mais honrosa para os gestores do capitalismo outrora mais liberal do planeta. Ajuda a quem necessita sem beneficiar empresas que ocultam sob o véu da crise gestões incompetentes, desonestas e perdulárias.