Valor Econômico, n. 5198, v.21, 02/03/2021. Brasil, p.A4

 

 

Pazuello promete mais de 450 milhões de vacinas neste ano

 

Bolsonaro quer que setor privado assuma responsabilidade pela compra de imunizante da Pfizer

Por Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto — De Brasília

 

Diante do agravamento da pandemia por todo o país e da pressão sobre o governo federal, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, prometeu ontem à cúpula do Executivo e do Legislativo que disponibilizará mais de 450 milhões de vacinas até o fim do ano e o presidente Jair Bolsonaro pediu ao Congresso a aprovação do projeto que facilita a compra de vacinas pelo setor privado.

 

Pazuello se reuniu no domingo com Bolsonaro e com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), no Palácio da Alvorada. O encontro, de quase três horas, também contou com os ministros Paulo Guedes (Economia), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Walter Souza Braga Netto (Casa Civil).

 

Valor apurou que o presidente quer que o setor privado fique responsável pela aquisição de vacinas da Pfizer / Biontech e assuma as cláusulas e seguros exigidos pela farmacêutica. Participantes da reunião pediram que Bolsonaro “pare de lutar contra a Pfizer”.

 

Houve, então, o aceno para a possibilidade de o governo disponibilizar os recursos e entrar com a intenção de compra desde que a negociação seja intermediada por um consórcio de empresas do setor privado. A intenção é que essas companhias formem um fundo para assumir os riscos de efeito colateral do imunizante da Pfizer.

 

Segundo relatos, Bolsonaro destacou a importância de se acelerar a imunização para responder às críticas feitas pelos governadores ao governo federal e pediu aos chefes do Legislativo a rápida aprovação do projeto que facilita a compra de vacinas pelo setor privado. O texto já foi aprovado no Senado e deve ser votado nos próximos dias pela Câmara, segundo compromisso que teria sido feito por Lira no encontro.

 

Já Pazuello prometeu que pelo menos 170 milhões de vacinas estarão disponíveis ainda no primeiro semestre para a população. O cronograma foi divulgado publicamente por ele há duas semanas, mas nem todas essas doses foram contratadas ainda.

 

Na reunião, Bolsonaro reforçou que é contra as medidas de restrição e ao fechamento de empresas devido ao aumento de casos de coronavírus. A maioria dos participantes concordou que o lockdown é “absurdo” e não é necessário já que o plano de vacinação já está em andamento. O governo do Distrito Federal, onde mora o presidente, decretou o fechamento de parte do comércio, serviços e indústria e mandou os servidores para o trabalho doméstico com o agravamento da crise e a falta de leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs).

 

No jantar, ficou acertado também o pagamento de quatro parcelas do auxílio emergencial em R$ 250, de março a junho, para contemplar os trabalhadores informais e desempregados. Isso dependerá da aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) Emergencial, para permitir os gastos com créditos extraordinários, sem contrapartidas de redução de despesas, como cogitado até o fim do ano passado. O Senado deve votá-la ainda nesta semana, e a Câmara, logo depois.

 

Participantes do encontro relataram que Bolsonaro quer que os governadores assumam responsabilidade pela desmobilização da estrutura de hospitais de campanha. Todos concordaram que é urgente o aumento do número de leitos em razão do agravamento da pandemia.

 

Lira terá um encontro com os governadores hoje, para tratar de medidas para mitigar a pandemia, e, segundo interlocutores deles, haverá pedidos por mais verbas. O presidente da Câmara pediu medidas legislativas para ajudar a acelerar a vacinação.

 

Com o lockdown no Distrito Federal desde sexta-feira, Lira publicou ontem ato suspendendo de forma “temporária e excepcional” a retomada dos trabalhos presenciais do Legislativo. A medida vale para os gabinetes e setor administrativo. O plenário e a volta das comissões, que ele pretende instalar na quinta-feira, estão mantidos.