Título: Inflação fecha 2008 dentro da meta
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 10/01/2009, Economia, p. A16

Pressionado pelos alimentos, IPCA de 5,9% fecha o ano como o pior desde os 7,6% de 2004

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), utilizado como referência para a meta oficial de inflação, fechou o ano passado em 5,90% ­ abaixo do teto da meta estipulada pelo Banco Central (BC). Medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o indicador acelerou pressionado principalmente pelos preços dos alimentos, depois de a alta de 4,46% em 2007.

O BC perseguia a meta de inflação de 4,5%, com margem de tolerância de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo. O menor ritmo de alta dos preços no último bimestre, como conseqüencia da crise mundial, impediu que a inflação rompesse o limite da meta, depois de outubro registrar inflação de 6,41% no acumulado em 12 meses. Ainda assim, o resultado de 2008 foi o pior desde 2004, quando o IPCA fechou em 7,60 %.

Em dezembro, o indicador do IBGE subiu 0,28%, o que representou desaceleração frente à taxa de 0,36% verificada em novembro. Para o mês passado, analistas esperavam alta de 0,31% para o IPCA, levando-se em consideração a mediana dos prognósticos de 25 instituições. As estimativas variaram de 0,25% a 0,62%.

Vilão de 2008

O grupo alimentos foi o grande responsável pelo aumento do custo de vida no ano passado. Representou 2,42 pontos percentuais dos 5,90% de alta acumulado pelo indicador no ano. O grupo fechou o ano com alta de 11,11%, a variação mais elevada desde 2002 e a terceira maior alta no Plano Real. Os itens vestuário, computadores e artigos de residência, que englobam eletroeletrônicos, subiram acima da variação de 2007.

Enquanto o BC se limitou apenas a comemorar os números, ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o resultado abre espaço para as quedas dos juros.

- ­ Fiquei muito satisfeito com o resultado do IPCA -­ afirmou o ministro. ­ Tinha gente que falava que ia ultrapassar 6,5%. Passamos pelo choque de commodities mantendo a inflação brasileira dentro da meta. Isso dá um espaço importante para a redução do juro no país.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o BC afirmou que o cumprimento da meta de inflação nos últimos cinco anos mostra que a autoridade monetária encontra-se no caminho correto.

"A política monetária adotada pelo BC é adequada para preservar o poder de compra da população e a manutenção do ganho real dos salários. Esses são os principais dividendos da estabilidade", afirmou o presidente do BC, Henrique Meirelles, por intermédio de sua assessoria.

2009

Pesquisadora do IBGE, Eulina Nunes dos Santos confirmou a desaceleração do indicador de custo de vida como resultado direto da retração da economia mundial. ­

-Os preços das commodities começaram a subir em 2007 com o aquecimento mundial e essa situação continuou no primeiro semestre de 2008 -­ avaliou. ­ A partir de setembro, veio a crise e a bolsa de mercadorias internacional refletiu a queda da demanda. Os exportadores brasileiros também aumentaram a oferta no mercado interno.

A crise ajudou a conter a inflação.

Eulina identificou também no resultado do ano passado os primeiros sinais de impacto da alta do dólar, fenômeno que deverá permear o desempenho do indicador de inflação de 2009. ­

- Acho que pode estar ocorrendo e os sinais ainda não são evidentes. Vestuário tem influência da China e aumento de componentes importantes ­- disse Eulina. ­ - Não se pode atribuir a alta do IPCA em 2008 ao dólar. Nas próximas divulgações ele pode aparecer mais, porém em um ambiente de crise pode não haver espaço para repassar.

O INPC, que mede a variação de preços para famílias com renda de até seis salários, avançou 6,48%, afetado principalmente pelos alimentos, ante 5,16% em 2007. Foi a maior taxa desde 2003.