O Globo, n.32008 , 26/03/2021. País, p.6

 

Sem ganhar novo ministério, Pazuello volta ao Exército

Jussara Soares

26/03/2021

 

 

Ele deve passar a despachar na Defesa; Bolsonaro queria indicá-lo para cargo em que mantivesse o foro privilegiado

Sem espaço no governo, o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, será reintegrado imediatamente ao Exército e deve passar a despachar no Ministério da Defesa. Inicialmente, o presidente Jair Bolsonaro avaliou dar ao militar um cargo com status de ministro, o que garantia a ele a manutenção do foro privilegiado para seguir respondendo no Supremo Tribunal Federal (STF) o inquérito que apura sua responsabilidade na condução da pandemia. Todas as opções cogitadas, no entanto, tiveram resistência no governo, e Pazuello, por ora, está desalojado.

Interlocutores do ex-ministro ainda acreditam na possibilidade de, em breve, ele ganhar uma nova função no governo. Na manhã de ontem, Pazuello se despediu dos servidores do Ministério da Saúde.

Conforme registrado em uma série de vídeos nos quais Pazuello conversa com seu substituto, Marcelo Queiroga, ele afirma que perdeu o cargo por pressão política.

BARRADO NO PPI

Na terça-feira, dia da posse do novo ministro da Saúde, auxiliares do Palácio do Planalto chegaram a dar como certa a ida de Pazuello para o comando da Secretaria Especial do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI). Nesse rearranjo, o órgão, atualmente vinculado ao Ministério da Economia, seria transferido para a Secretaria-Geral da Presidência, comandada por Onyx Lorenzoni, patrocinador da ida de Pazuello para o PPI.

O ministro Paulo Guedes conseguiu barrar as tratativas com o argumento de que a ida do general para o órgão seria malvista pelo mercado e poderia indicar falta de prioridade do governo para as concessões e privatizações. Na noite de terça-feira, o Planalto já tratava como encerrada discussão e dava como certa a volta de Pazuello para a atividade militar.

Anteriormente, na tentativa de abrigar Pazuello, o governo chegou a estudar a criação de um Ministério da Amazônia Legal, o que rapidamente foi descartado por ter resistência interna e também desagradar políticos do Centrão que cobram espaço no Executivo.

Outra opção discutida foi que Pazuello ficasse com a Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (SAE). Mas a ideia, que partiu de ministros-generais, acabou gerando uma disputa entre auxiliares oriundos do Exército e da Marinha.

RESTRIÇÃO DOS MILITARES

A SAE é comandada pelo almirante Flávio Rocha, que no dia 11 deste mês passou a acumular o comando da Secretaria Especial de Comunicação (Secom).

Rocha, que se tornou um dos principais auxiliares de Bolsonaro, conseguiu evitar a perda de espaço.

Quando Bolsonaro anunciou Marcelo Queiroga como novo chefe da Saúde no último dia 15, Pazuello afirmou a interlocutores que seguiria como ministro e que só faltava o presidente definir em que posição. Sem o ministério para Pazuello, auxiliares do Planalto passaram a afirmar que o foro privilegiado nunca foi uma questão debatida pelo presidente; que ele apenas queria manter Pazuello por considerá-lo um bom quadro para o governo.

A volta de Pazuello ao Exército também é vista com restrição por militares. Integrantes da Força defenderam que o ex-ministro passasse para a reserva. Entre oficiais-generais há o receio de que o movimento de retorno de Pazuello à atividade da caserna seja interpretado como um vínculo político da instituição, o que tem sido evitado pelo comandante do Exército, Edson Leal Pujol.