Título: Juro em alta freia otimismo
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 03/03/2005, Economia & Negócios, p. A17

Seqüência de elevações da taxa básica aumenta preocupação com emprego e afeta expectativas do consumidor em fevereiro

A trajetória de alta na taxa de juros iniciada em setembro, que, segundo analistas, freou o crescimento do país no último trimestre, começa a afetar a expectativa do consumidor. Em fevereiro, mês em que ocorreu o sexto aumento da Selic, para 18,75%, o percentual de entrevistados que acreditam em piora da situação econômica passou para 18,7%, ante 15,3% em janeiro, aponta a Sondagem do Consumidor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). No mesmo período, os entrevistados que avaliaram a conjuntura como melhor caiu de 24,7% para 18% dos chefes de família. - É provável que a taxa de juros esteja começando a afetar a opinião dos consumidores - afirma Aluisio Campelo, coordenador da pesquisa que consulta mensalmente 1,45 mil chefes de família.

A parcela de entrevistados que avaliam ser mais difícil obter trabalho nos próximos seis meses cresceu de 45% para 47% entre janeiro e o mês passado. Já o percentual dos que avaliam ser mais fácil alcançar emprego caiu de 14% para 10,3% no mesmo período. O saldo das respostas sobre emprego ficou negativo em 37,1 pontos percentuais. Para o grupo de famílias que recebem até três salários mínimos - a menor faixa de renda pesquisada pela FGV - o saldo negativo é de 46,5 pontos percentuais.

- Isso reflete a incredulidade do consumidor, que parece escaldado depois de tantos períodos de euforia e interrupção de crescimento. É o medo do vôo de galinha - afirma Campelo.

Aliada ao aumento da taxa de juros, a concentração de impostos no início do ano piorou as perspectivas do consumidor quanto à economia e ao próprio bolso.

Subiu de 23% para 26,3% o percentual de chefes de família que se endividaram. No mesmo período, a parcela dos que disseram ter economizado passou de 13,5% para 15,2%.

- Existe um componente sazonal, já que nesta época do ano os consumidores têm mais gastos com impostos, como o IPTU, o IPVA, e com os gastos de matrícula e material escolar - avalia Campelo.

A Sondagem da FGV mostra, ainda, que o universo dos que consideram ruim a situação macroeconômica atual representou 37,3% dos entrevistados, ante 33,4% verificado em janeiro. Os que consideram a conjuntura boa passaram de 13,3% para 12,5% dos chefes de família ouvidos. Conforme divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última terça-feira, apesar de ter registrado em 2004 o maior crescimento dos últimos dez anos em 2004, com expansão de 5,2% sobre o ano anterior, a economia brasileira registrou leve expansão de 0,4% no quarto trimestre do ano passado, ante 1,1% do trimestre anterior. Esse resultado aponta para um desaceleração do crescimento da economia em 2005.

A sondagem também aponta uma piora na avaliação dos entrevistados quanto à situação das famílias em relação a seis meses para 15% dos entrevistados. Em janeiro, eram 12% afirmando o mesmo.

Se, por um lado a situação atual piorou para a maioria dos entrevistados, o futuro é visto com mais otimismo por um maior número de entrevistados. O otimismo atingia 56,1% dos chefes de família em janeiro e passou a contagiar 56,9% em fevereiro. A intenção de comprar bens de alto valor, contudo, permanece contida.

- Não dá para dizer que há uma mudança de tendência, pois esse resultado negativo é o segundo melhor da série - pondera Campelo.

No conjunto da pesquisa, segundo Campelo, os resultados voltaram ao mesmo patamar de dezembro passado, o segundo melhor resultado desde o início da série histórica, em outubro de 2002.

Com agências