O Globo, n.32008 , 26/03/2021. Mundo, p.22

 

Vizinhos em alerta

26/03/2021

 

 

Variante brasileira se espalha e arrisca agravar pandemia no continente

Em meio a alertas da Organização Pan-Americana de Saúde( Opas) sobre os reflexos nos países vizinhos do descontrole da pandemia de Covid -19 no Brasil, a Argentina suspendeu voos provenientes do país, e o ministro da Saúde do Peru, Óscar Ugarte, afirmou ontem que avariante P 1 do coronavírus, identificada pela primeira vez em Manaus em 2020, foi responsável nos últimos dois meses por 40% das infecções ocorridas em Lima. Outros países também já estão sofrendo coma situação calamitosa da pandemia no Brasil, onde o número de mortes passou nesta sema nade 300 mil.

O anúncio da suspensão de voos para a Argentina inclui, além do Brasil, o Chile e o México. Segundo o governo argentino, o objetivo é tentar conter a expansão de novas cepas no país. Além disso, quem ingressar na Argentina deverá apresentar teste de PCR. Se o teste for positivo, o passageiro deverá fazer outro exame e ficar em isolamento com seus contatos mais próximos.

O ministro peruano procurou ser cauteloso ao falar sobre a disseminação da variante brasileira.

—Isso não deve causar alarme, mas diz que devemos redobrar os cuidados para evitar os contágios e, portanto, redobrar as medidas como lavar as mãos, usar máscaras, evitar as aglomerações e garantir o distanciamento social — disse Ugarte em entrevista na noite de quarta-feira.

O estudo que detectou a incidência da variante P1 na capital peruana foi realizado pelo Instituto Nacional de Saúde do Peru (INS). O ministro explicou que, a partir da pesquisa, foi possível identificar que a cepa brasileira entrou no país por via terrestre e fluvial, pela região amazônica. O país proibiu voos procedentes do Brasil em janeiro.

Com 2.800 quilômetros de fronteira com o Brasil, o Peru identificou a P1 pela primeira vezem janeiro, no departamento(estado) de Loreto, cuja c apita léIq ui tos,àbe irado Rio Amazonas. A partir dali, foi possível traçar uma rota da variante pelo país. Em Lima, a proporção decas os provocados pelacep abrasileira alcançou 63,2% em alguns distritos.

— Nós identificamos casos da variante brasileira em Iquitos, San Martin, Huánuco. Por meio dessa rota e das pessoas que viajam, avariante chegou a Lima—explicou o ministro.

PRESENÇA JÁ EM 15 PAÍSES

Ontem, o Peru registrou um número recorde de 11.206 casos em um único dia. Ao todo, o país já contabiliza quase 1,5 milhão de infectados, dos quais 700 mil em Lima. O númerode óbitos chega a 50 mil. A escassez de vacinas no país mantém o ritmo de imunização lento, com o índice de imunizantes aplicados em 2,2 por 100 habitantes, considerando as primeira e segunda doses. No Brasil, também atrasado na vacinação, esse índice é de 7,2.

Na terça-feira, a diretora da Opas, Carissa Etienne, alertou para o risco de a situação brasileira agravar a pandemia nos países vizinhos. A variante P1 já foi identificada em 15 países e territórios das Américas, incluindo Bolívia, Venezuela, Argentina, Chile, Uruguai, Colômbia, Paraguai, Guiana Francesa, EUA, México, Canadá e Aruba.

—O vírus continua se disseminando perigosamente no Brasil. Os números de casos e mortes têm aumentado, e a ocupação das UTIs é alta em muitos estados. Infelizmente, a terrível situação do Brasil também afeta os países vizinhos —lamentou Etienne.

A Opas destacou o aumento de casos da Covid-19 nos estados venezuelanos de Bolívar e Amazonas, bem como no departamento de Pando, na Bolívia, e também em Loreto, no Peru, citado por Óscar Ugarte. Todos fazem fronteira com o Brasil.

No Uruguai, foram registrados na segunda-feira 2.682 novos casos e 19 mortes, os maiores números desde a declaração da emergência sanitária, em março de 2020. A piora da pandemia no país, antes um exemplo da contenção do coronavírus, é atribuída à nova variante brasileira.

Na Venezuela, em função do aumento de casos, uma “quarentena radical” está em vigor desde segunda-feira e deve durar duas semanas, após meses de flexibilização.

Também em crise e sem leitos disponíveis para casos graves em hospitais públicos e privados, o Paraguai decretou na noite de quarta-feira uma quarentena total, exceto para atividades essenciais, a partir do próximo sábado e até 4 de abril. Um toque de recolher só permitirá a circulação entre 5h e 20h. O presidente Mario Abdo Benítez tem enfrentado protestos da população pela falta de vacinas e medicamentos.

Já o Chile anunciou ontem a ampliação de uma quarentena que passou avigorar ontem, e mais de 85% da população do país serão confinados a partir de amanhã, um contingente quere presenta cerca de 16 milhões dos 18,7 milhões de habitantes do país.

O anúncio foi feito pelas autoridades, que confirmaram a presença de “45 casos da variante brasileira”, além de “64 casos da variante britânica”, em meio à explosão de casos de Covid-19 no país, apesar de uma campanha de vacinação inegavelmente veloz. Nas duas últimas semanas, houve um aumento de 36% nas infecções. Na quarta-feira, 7.023 novos casos e 122 mortes foram notificados, para um total de 954.762 infectados e 22.524 mortes confirmadas desde o início da pandemia.

EM CASA NO FIM DE SEMANA

Segundo o jornal La Tercera, todas as 52 comunas da Região Metropolitana de Santiago passarão ao estágio de quarentena total a partir das 5h de amanhã, enquanto outras 146 comunas também entrarão em algum nível de confinamento. Entre os motivos do governo para decretar a medida de quarentena total para a Região Metropolitana está a tentativa de reduzir as infecções e descomprimir o sistema de saúde, num cenário com eleições marcadas para 10 e 11 de abril.

— Todos fazemos parte do país, todos temos responsabilidades a cumprir em relação à pandemia e, mais do que nunca, devemos cuidar de nós mesmos, porque quando se cuida de si, cuida-se dos outros e evita-se a propagação do vírus — disse Jaime Bellolio, porta-voz do governo.

As novas restrições incluem o fechamento de supermercados no fim de semana. Aos sábados e domingos, mais de 90% dos chilenos terão que permanecer em casa. Passageiros do Brasil também deverão, a partir de ontem, ficar isolados por três dias em um hotel sanitário e por mais sete dias em sua residências. Viagens e passeios foram desaconselhados.

O revés surge no momento em que a campanha de vacinação em massa, iniciada no dia 3 de fevereiro, marca um recorde de mais de 6 milhões de pessoas que receberam pelo menos uma dose da vacina do laboratório chinês Sinovac ou da americana Pfizer. Mais de 3 milhões de pessoas também já receberam a segunda dose da imunização.