Título: Fiesp quer reduzir jornada e salário
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Fonte: Jornal do Brasil, 15/01/2009, Economia, p. A16
Empresários dizem que medidas propostas podem assegurar a manutenção dos empregos
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, afirmou ontem que a redução da jornada de trabalho e do salário em até 25%, de acordo com a lei, é a única forma de evitar demissões no atual período de crise econômica global. Mesmo assim, o executivo não garante que a medida vá impedir as dispensas. A declaração de Skaf soa como uma reação ao que disse o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que, na véspera, defendeu uma punição às empresas que viessem a demitir funcionários. O dirigente afirmou também que deseja ver a lista de empresas beneficiadas pelo governo com recursos públicos, referindo-se a outra afirmação de Lupi. O ministro teria dito que o governo fez sua parte para ajudar as empresas que, no entanto, não estariam cumprindo a promessa de garantir os empregos dos funcionários.
Paulo Skaf garantiu que a defesa da redução da jornada de trabalho e do salário representa a posição de todo o Conselho Superior Estratégico da Fiesp, que se reuniu ontem para discutir os efeitos da crise no mercado de trabalho da indústria.
¿ Isso está na lei. Já existe essa previsão de reduzir jornada e salário. disse Skaf. ¿ Nós pusemos um ingrediente novo ao oferecer cursos profissionalizantes gratuitos no tempo ocioso dos trabalhadores para que eles possam aproveitar esse tempo para se aprimorar.
Estiveram presentes na reunião cerca de 30 empresários das maiores empresas do país, além de representantes da Força Sindical. Segundo Skaf, os dois lados ¿ empresários e trabalhadores ¿ devem orientar seus sindicatos a buscarem um entendimento sobre a redução da jornada e dos salários.
¿ Foi feito um apelo para que tudo seja feito, todas as alternativas sejam esgotadas antes de mexer no emprego ¿ afirmou Skaf.
Segundo as empresas, se houver redução de jornada com redução de salário, há grandes chances de manutenção do nível de emprego.
O presidente da Fiesp também afirmou esperar que, ainda hoje, haja um acordo entre empresários e trabalhadores sobre a questão.
¿ O sinal foi dado. Esperamos que até amanhã (hoje) se chegue a um acordo. A negociação está sendo feita em São Paulo, mas há empresas com negócios em outros Estados ¿ disse Skaf.
Sobre os incentivos que partiram do governo, Paulo Skaf destacou que o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), reduzido para incentivar a compra de veículos novos, incide diretamente no preço pago pelo consumidor, e não na carga tributária paga pelas empresas.
¿ A inciativa do governo de reduzir uma parte desses impostos que são pagos por todo o setor, e considerando que imediatamente essa redução passe para o setor, não se enquadra em uma situação de empresas usando recursos do governo ¿ ressaltou.
Quanto à recusa da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de participar da negociação, Skaf disse que ainda há "um canal de entendimento" com a entidade e que o acordo vai ser fechado com ou sem a aprovação do órgão:
¿ Vamos fazer isso com a CUT ou sem CUT.
Segundo Skaf, quem se posiciona contra a medida "está a favor do desemprego"". Ele advertiu que não é "momento de fazer média".
O governo federal não quis comentar ontem a proposta do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, a respeito de uma possível represália oficial a empresas que demitirem durante a crise. Lupi havia proposto restringir o acesso dessas empresas a linhas emergenciais de crédito lançadas pelo governo.