Valor Econômico, n. 5203, v.21, 09/03/2021. Política, p.A14

 

 

 

Lira cobra punição a Moro; Maia pede construção de candidatura do centro

 

Presidente da Câmara, a exemplo de outros integrantes do Centrão, também foi alvo da Lava-Jato

Por Carolina Freitas, Raphael Di Cunto, Marcelo Ribeiro, Vandson Lima, Renan Truffi e Marina Falcão — De São Paulo, Brasília e do Recife

 

 

Lideranças identificadas com partidos ou com o ideário de centro reagiram ontem com cautela diante da notícia da anulação das condenações ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo ex-juiz federal Sergio Moro na Operação Lava-Jato. Com a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), Lula pode novamente disputar eleições, algo que tentou em 2018 mas foi impedido pela Justiça. Uma candidatura de Lula em 2022 polarizaria a disputa entre ele e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Isso pode enfraquecer candidaturas posicionadas mais ao centro.

 

Expoente do Centrão, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que sua “maior dúvida” sobre a decisão de Fachin é se ela foi tomada para “absolver Lula ou Moro”. “Lula pode até merecer. Moro, jamais!”, escreveu Arthur Lira no Twitter. O presidente da Câmara, a exemplo de outros integrantes do Centrão, também foi alvo da Lava-Jato.

 

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), evitou se posicionar sobre reviravolta no caso Lula. “Não vou comentar decisão judicial do Supremo Tribunal Federal em caso concreto, cujos elementos jurídicos desconheço”, afirmou Pacheco, que é advogado.

 

O apresentador de televisão Luciano Huck, que estuda a possibilidade de se lançar candidato a presidente nas eleições do ano que vem, comentou: “Uma coisa é fato: figurinha repetida não completa álbum.” O apresentador ponderou que o STF tem “a última palavra” e que é preciso refletir “com equilíbrio” sobre o momento e sobre o que vem pela frente.

 

O ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ) avaliou como “correta” a posição de Fachin. “Demorou muito. Gera danos para o próprio ex-presidente mas, mesmo atrasada, é uma decisão que todos avaliavam: que Curitiba não podia ser o juiz natural de todos os casos do Brasil. É a decisão correta do ponto de vista jurídico”, afirmou Maia.

 

“A questão eleitoral não pode ser mais relevante do que um julgamento justo para todos os brasileiros, inclusive para o ex-presidente Lula”, disse o deputado.

 

“Cabe agora àqueles que se opõem ao PT e ao Bolsonaro que consigam construir um projeto de centro, centro-esquerda ou centro-direita viável”, afirmou Maia.

 

O ex-ministro da Saúde de Bolsonaro Henrique Mandetta (DEM-MS) afirmou que os “extremos comemoram” a liberação de Lula. Mandetta é cogitado como candidato a presidente em 2022. “Os extremos comemoram, pois se nutrem um do outro. A ruptura da liga social brasileira avança. Mais que nunca o povo de bem terá que apontar o caminho para pacificar esse país”, escreveu, em seu perfil no Twitter, o ex-ministro.

 

Mandetta vem defendendo a formação de uma “terceira via”, ou seja, uma candidatura que fique distante da polarização entre PT e Jair Bolsonaro.

 

Os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), não se posicionaram até a noite de ontem sobre a anulação dos processos contra Lula. Ambos têm pretensões presidenciais e já fizeram duras críticas tanto ao petista quando a Bolsonaro.