Valor Econômico, n. 5204, v. 21, 10/03/2021. Brasil, p.A5

 

 

Com 90% de ocupação na UTI, hospital do DF usa contêiner como necrotério

 

Com mortes por falta de atendimento na região metropolitana, São Paulo promete criar mais vagas

 

 

Em um dos momentos mais crítico da pandemia de covid-19 no Distrito Federal, a UTI do Hospital das Forças Armadas atingiu a taxa de ocupação de 90% dos leitos. Referência no tratamento da covid-19, a instituição tem usado desde o ano passado um contêiner frigorífico como necrotério.

 

O Ministério da Defesa, ao qual o hospital é ligado, informou, em nota, que o contêiner foi contratado em setembro de 2020 para assegurar tratamento condizente à demanda. O necrotério já existente, construído na década de 1970, é pequeno e necessitava de reforma e ampliação antes mesmo da pandemia.

 

O hospital é utilizado por membros do alto escalão do governo federal, inclusive para tratamentos contra a covid-19. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ficou internado em novembro do ano passado no local.

 

Em janeiro de 2020, o presidente Jair Bolsonaro passou por sua segunda vasectomia no hospital. Em julho de 2019, a primeira-dama Michelle Bolsonaro foi operada para corrigir desvio de septo.

 

O Distrito Federal enfrenta o auge da crise contra o coronavírus. A taxa de ocupação de leitos de UTI era de 93,2% ontem. O governador Ibaneis Rocha (MDB) decretou estado de calamidade pública.

 

Na segunda-feira, Ibaneis decretou toque de recolher das 22h às 5h até o dia 22 de março.

 

Em São Paulo a situação é crítica em várias unidades de saúde. Dados da Secretaria da Saúde do Estado divulgados no início da noite de ontem apontavam que 19 hospitais estaduais atingiram 100% da ocupação de leitos de UTI para covid-19 e outros seis estão com taxas superiores a 95% de ocupação.

 

O número já havia sido divulgado pela pasta na sexta-feira, mas a lista de ontem atualizou as unidades em situação crítica.

 

Em nota, a secretaria informa que a situação impacta diretamente na realização de transferências de pacientes mais graves, já que não há leitos disponíveis. Também ontem a prefeitura de Taboão da Serra, na Grande São Paulo, informou que 11 pessoas morreram à espera de leitos de UTI para covid-19 entre sábado e segunda-feira.

 

Em nota, a administração municipal disse que, desde o dia 3 de março solicitou a transferência de pacientes graves ao governo estadual, porém não foi atendida.

 

A cidade conta com leitos de baixa complexidade (em que é possível fazer procedimentos mais simples). Essas 11 pessoas precisavam de atendimento de alta complexidade e não puderam ser atendidas.

 

Somente após o caso se tornar público, segundo a prefeitura, é que o governo do Estado informou que liberaria quatro leitos. Ontem à tarde ainda havia 12 pessoas em situação grave aguardando transferência.

 

“É fundamental que a população respeite a fase vermelha do Plano São Paulo e as medidas de proteção ”, afirmou a Secretaria de Saúde do Estado, em nota.

 

Para tentar contornar a situação, o governo estadual anunciou a abertura de 780 novos leitos com instalação prevista até o fim deste mês, sendo 479 de UTI. Outros 11 hospitais de campanha estão previstos para reforçar os quatro já existentes.

 

“Mesmo com estas medidas, é preciso apoio de toda a população para reduzir a sobrecarga no SUS e o número de mortes. Por isso, toda a população respeite os protocolos sanitários, com uso de máscaras, higienização das mãos, distanciamento social e respeito a fase vermelha do Plano São Paulo”, reforça a nota da Secretaria de Saúde.