Valor Econômico, n. 5205, v.21, 11/03/2021. Brasil, p.A4

 

 

 

Menos da metade da população está ocupada na maioria dos Estados

 

Desemprego bate recorde em 20 unidades da federação e avança mais entre negros e mulheres

Por Lucianne Carneiro — Do Rio

 

 

Influenciada pela pandemia, a crise do mercado de trabalho em 2020 foi tão intensa que quatro das cinco regiões brasileiras e 20 das 27 unidades da federação tiveram a pior taxa de desemprego da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012. Na média nacional, a taxa de 2020 (13,5%) também foi a pior já registrada pela pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na maioria dos Estados (15 dos 27) o nível de ocupação ficou abaixo dos 50%, especialmente no Norte e no Nordeste. Isso significa que menos da metade das pessoas em idade de trabalhar estava ocupada nesses locais.

 

Os dados mostram ainda que os negros, que historicamente têm desemprego maior, foram mais impactados pela crise que os brancos, movimento semelhante ao que ocorreu entre mulheres, se comparadas com os homens. No quarto trimestre de 2020, a taxa de desemprego das mulheres foi 37,8% maior que a dos homens. Os indicadores também apontam efeitos maior da crise entre os trabalhadores mais jovens - entre 18 e 24 anos - e entre os que têm escolaridade menor.

 

“Quase todas as regiões do Brasil tiveram em 2020 a maior taxa anual de desemprego da série histórica, a única exceção foi o Norte. E essa foi a realidade também para as unidades da federação. As únicas sem expansão foram Amapá e Pará”, diz Adriana Beringuy, responsável pela pesquisa.

 

Foram 20 das 27 unidades da federação com recordes negativos e 23 das 27 com alta na taxa de desemprego em 2020, frente a 2019. Em São Paulo, com o maior contingente de trabalhadores do país, a taxa de desemprego avançou de 12,5% em 2019 para recorde de 13,9% em 2020. O estado teve, em média, 3,3 milhões de desempregados no ano passado. Já o Rio de Janeiro viu sua taxa de desemprego disparar de 14,7% para 17,4%, na mesma comparação, com média de 1,4 milhão de desempregados em 2020.

 

Na passagem do terceiro para o quarto trimestre, houve alguma reação no mercado, que sazonalmente tende a melhorar no fim do ano, mas pouco disseminada, já que ocorreu de forma significativa em apenas cinco das 27 unidades da federação.

 

Além de recordes negativos em diferentes regiões do país, o ano de 2020 também de aprofundamento de desigualdades já existentes no mercado de trabalho no que se refere a raça e gênero. O desemprego entre a população de cor parda ou preta é historicamente maior e esses grupos ainda tiveram piora mais intensa em 2020. Na população branca, a taxa subiu de 9,4% para 10,9% entre 2019 e 2020. O crescimento foi maior na população preta, de 14,7% para 17,3%, e na parda, de 13,7% para 15,4%. O movimento foi semelhante ao observado entre as mulheres. Entre elas, o desemprego subiu de 14% em 2019 para 15,6% em 2020, enquanto a dos homens avançou de 10,1% para 11,7%.

 

“A pandemia tem aprofundado essas desigualdades de raça e gênero no mercado de trabalho. Mulheres e negros estão em geral em ocupações mais fragilizadas, em relações de trabalho que são mais facilmente rompidas”, explica a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Luana Pinheiro.

 

Entre as mulheres, a queda significativa da taxa de participação na força de trabalho, ou seja, as pessoas em idade de trabalhar que estão empregadas ou procurando emprego, deixou claro o impacto da pandemia: de 53,1% em 2019 para 48% em 2020.

 

“Pela primeira vez, desde os anos 90, temos uma taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho abaixo de 50%. Foi um retrocesso enorme para apenas um ano”, ressalta Luana.