Valor Econômico, n.5208, 16/03/2021. Brasil, p.A5

 

Para 81%, vacinação é lenta e reflete falta de planejamento

Talita Moreira

16/03/2021

 

Brasileiros veem pandemia piorando, aponta pesquisa Febraban/Ipespe

A maioria da população brasileira enxerga a vacina como a única forma segura de se proteger contra a covid-19, está insatisfeita com o ritmo atual de imunização e considera a falta de planejamento do governo como a principal razão da demora. Essas são algumas conclusões de pesquisa realizada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) em parceria com o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe).

De acordo com o levantamento, 81% dos brasileiros consideram a velocidade da vacinação no país insatisfatória e lenta porque deveria ter havido uma melhor preparação para isso. Apenas 16% afirmaram que o ritmo está adequado e é normal diante da oferta de imunizantes.

Diante disso, 62% dos entrevistados apontaram que só em 2022 a maioria estará vacinada no país. Outros 29% disseram ver essa possibilidade já no segundo semestre deste ano. Apenas 4% afirmaram já ter recebido a vacina. A pesquisa foi realizada com 3 mil pessoas, numa amostra representativa da população adulta, entre 1º e 7 de março.

“Estamos completando um ano de uma crise de saúde e humanitária sem precedentes e as milhares de mortes e casos mostram a face mais sombria do primeiro ano da pandemia, que contagiou também a atividade econômica, continua paralisando o país e colocou a todos em compasso de espera”, afirmou o presidente da Febraban, Isaac Sidney, por meio de nota.

Apesar de o coronavírus já ter chegado no Brasil há pouco mais de um ano, a pandemia está piorando na opinião de 74% dos entrevistados. Outros 16% responderam que a situação é estável e apenas 9% disseram notar melhora. A sensação de que a crise sanitária recrudesceu se dá num momento em que as pessoas veem a covid-19 chegar mais perto delas. Mais da metade (55%) disse que alguém da família já teve a doença e 52% afirmaram ter parentes, amigos ou conhecidos que morreram em decorrência do vírus.

Para a maior parte dos entrevistados (55%), a atuação de governos estaduais e prefeituras na fiscalização de eventos que geram aglomerações está aquém do necessário. Para 36%, está na medida certa e apenas 7% disseram notar exagero dos entes públicos para coibir essas situações.

A vida continua muito diferente do que era antes da pandemia, segundo 73% dos entrevistados, e só voltou totalmente ao normal para 3% - daí a importância dada à vacinação como ferramenta para permitir uma volta à rotina. Bares e restaurantes, shoppings e praias deixaram de ser frequentados por bem mais da metade dos brasileiros ouvidos no levantamento. Entretanto, 42% se reúnem sempre ou às vezes com amigos e parentes que não moram na mesma casa. Uma parcela de 39% sai para trabalhar sempre, e outros 20% disseram que o fazem às vezes.

Finanças, relações com os amigos, saúde mental e emocional e trabalho foram, nessa ordem, os aspectos da vida mais afetados pela pandemia. Encontrar familiares é o maior desejo dos brasileiros quando forem vacinados - a opção foi citada por 31%. Para o presidente do conselho científico do Ipespe, Antonio Lavareda, a preferência é natural, dado o impacto que a covid-19 teve nas relações familiares e sociais.

Apesar do cansaço com a situação atual, alguns hábitos adquiridos na crise devem ser levados para o mundo pós-covid. Os entrevistados disseram que vão manter ou intensificar o costume de lavar sempre as mãos ou usar álcool gel, higienizar produtos depois das compras e não entrar em casa com sapatos. Da mesma forma, mudanças mais ligadas à tecnologia, como o trabalho remoto e aulas e cursos on-line vieram para ficar.