Integrante do Centrão, PP também trabalha por mudança no Ministério das Relações Exteriores

A sinalização de que o governo pretendia trocar o ministro da Saúde não foi suficiente para desmobilizar a pressão vinda do Congresso Nacional. A comissão temporária que acompanha as ações contra a covid-19 no Senado aprovou, ontem, um requerimento de convocação imediata do até então ministro Eduardo Pazuello. O objetivo é cobrar informações sobre a disponibilidade de oxigênio nos Estados. Como se trata de uma convocação, Pazuello não pode se negar a prestar contas ao colegiado.

O pedido foi apresentado pelos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Styvenson Valentim (Podemos-RN) por conta da situação em Rondônia, Acre e Ceará. Durante a reunião, Randolfe citou especificamente o depoimento de uma secretária municipal de saúde de Rondônia, que alerta para um colapso do fornecimento de oxigênio nos próximos 15 dias, caso não haja uma providência imediata. “O cuidado desse requerimento é para que nós não deixemos que se repita uma situação tão dramática como aquela que ocorreu em Manaus no início do ano”, explicou Randolfe.

Este não foi o único requerimento aprovado pela comissão. Na mesma ocasião, os senadores deram aval para outros três pedidos. O primeiro deles sugere realização de audiência pública para debater o andamento dos processos de autorização emergencial e definitiva das vacinas. O segundo requer informações rápidas e detalhadas sobre as aquisições de vacinas. Por fim, os senadores aprovaram um outro requerimento, de autoria do senador Ciro Nogueira (PP-PI), que pede explicações sobre a demora na vacinação de idosos em regiões do país.

Ciro Nogueira é um dos líderes do Centrão e conhecido por ser nome próximo ao presidente Jair Bolsonaro. Ele participou ativamente das articulações em torno da substituição de Pazuello do cargo. Além da Saúde, o PP - partido de Ciro Nogueira - também tem pressionado por uma troca no Ministério das Relações Exteriores, cujo titular é o ministro Ernesto Araújo.

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) também entrou na mira dos parlamentares. Eles decidiram aprovar uma solicitação no qual cobram informações sobre reajustes anuais de planos de saúde aplicados durante o ano de 2020. Randolfe, autor do pedido, argumentou junto ao colegiado que os planos já anunciaram, no início deste ano, reajuste de valores com o acumulado do ano passado.

Apesar de todo esse esforço, ainda há senadores trabalhando na direção oposta. O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) comandou, ontem, uma sessão de debates destinada a debater com médicos e especialistas o uso de “tratamento profilático” no combate à covid-19. No encontro, ele propagandeou o uso da ivermectina, vermífugo que é usado há décadas, mas não tem qualquer eficácia no tratamento contra o coronavírus, segundo a própria fabricante. Girão não tem experiência na área médica, como ele mesmo lembrou. A afirmação provocou protestos de outros senadores, em particular de Marcelo Castro (MDB-PI), que é médico e foi ministro da Saúde.