Valor Econômico, n.5209, 17/03/2021. Política, p.A9

 

Bolsonaro é pior do que governos petistas, diz FHC

Cristiane Agostine

17/03/2021

 

 

Ex-presidente indica que em 2022 poderá votar em Lula caso a disputa fique entre o petista e o presidente Jair Bolsonaro

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que os governos dos ex-presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff tiveram menos consequências negativas do que o governo Jair Bolsonaro. Em entrevista ao “UOL”, FHC indicou um eventual voto em Lula em 2022, caso a disputa presidencial fique entre o petista e Bolsonaro, e criticou o atual presidente por “ver inimigos” por todos os lados.

“Falando de maneira objetiva, as consequências que podem ser positivas ou negativas, somando do Lula e mesmo da Dilma, que foi bastante negativa em muitos aspectos, foram menos graves do que as negativas atuais do presidente Bolsonaro”, disse o tucano.

Ao falar sobre uma eventual disputa entre Bolsonaro e Lula no próximo ano, o ex-presidente tucano disse que escolheria o “menos ruim”. “O Lula foi calejado pela vida, isso conta. Não é nenhum principiante, ele deu uma entrevista agora e acertou em uns pontos fundamentais, ele tem jeito para a coisa”, disse FHC, citando a primeira entrevista dada pelo ex-presidente petista depois de ter retomados seus direitos políticos.

Na semana passada, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, anulou as condenações de Lula nos processos relativos à Lava-Jato. Com isso, o petista poderá disputar a eleição presidencial de 2022. “Lula não é de esquerda nem de direita, o Lula é ele. Prefiro que não seja só isso, mas não é um mal”, disse o tucano, ao “UOL”. “Ele [Lula] tem experiência do mundo, tem experiência do Brasil, da pobreza”, destacou FHC. “Não sei se vai ter condições de ser candidato ou se seria o melhor candidato, mas acho que se ficar ele e Bolsonaro, mea culpa, voto em quem for menos ruim”.

Depois de ter declarado que anulou o voto no segundo turno da disputa presidencial de 2018, quando Bolsonaro concorreu contra Fernando Haddad (PT), Fernando Henrique disse que se esse cenário se repetir em 2022, votará contra o atual presidente.

“Se houver - espero que não haja - essa dicotomia entre Haddad e Bolsonaro, ou alguém do PT mas que seja razoável e Bolsonaro, eu votaria mais contra o Bolsonaro”, declarou.

O tucano ponderou que o atual presidente tem “força e representa um setor que tem que ser levado em consideração”, e disse que é preciso ter um candidato que reúna diferentes forças políticas para enfrentá-lo. “Estou disposto a apoiar aquele que seja capaz de agregar, que tenha uma visão democrática e progressista na área econômica e social, para evitar o constrangimento atual, de alguém que vê inimigo em todos os lados, que tem visão do bem e do mal.”

No entanto, FHC disse que a gestão Bolsonaro não tem conseguido entregar resultados e não é eficiente. FHC cobrou oposição dos pré-candidatos de seu partido, os governadores João Doria (São Paulo) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) e disse que se eles não se mostrarem como antibolsonaristas, não vão conseguir se viabilizar.

“Vão ter dificuldade de fazer oposição ao governo. Se não fizer oposição, não ganha. Parecido por parecido, melhor ficar com quem já está”, afirmou. “Tem que ter vigor, crítica à situação vigente”. Na avaliação do ex-presidente, se o PSDB achar um novo presidenciável, que não seja Doria nem Leite, seria “melhor”. “Mas pode ser que não tenha.”