Ainda não está claro que grau de autonomia foi dada pelo presidente Jair Bolsonaro ao novo ministro da Saúde, o médico Marcelo Queiroga. Mas há temores de que sua gestão repita o que acabou ocorrendo com o também médico Nelson Teich.
Sucessor de Luiz Henrique Mandetta, Teich ignorava totalmente o funcionamento da máquina pública e acabou tutelado por Pazuello, colocado por Bolsonaro como secretário-executivo da pasta.
O general nomeou mais de 20 militares para postos-chave no ministério, a seu critério e sem a participação do titular. Teich pediu demissão em 15 de maio, após 29 dias no cargo.
Começou, então, a era Pazuello, quando o país contabilizava 14.817 mortos pelo coronavírus. Hoje, dez meses depois, já são mais de 280 mil vítimas, com o índice diário de mortes se aproximando rapidamente de 3 mil.
Em jantar com parlamentares na segunda-feira em Brasília, Queiroga sinalizou que não fará uma desmilitarização do ministério a toque de caixa. Mas demonstrou que pretende fazer mudanças na equipe e escolher pessoas de confiança, conforme for assumindo os trabalhos à frente da pasta.
Uma fonte ouvida pelo Valor afirma que parlamentares foram informados da possibilidade de Pazuello voltar a ser secretário-executivo, agora sob Queiroga.
Essa solução, porém, seria vista como uma afronta ao Centrão e a grupos no Judiciário, que demandam mudanças efetivas, além de enfrentar oposição de grupos dentro do próprio governo.
Bolsonaro ainda busca um cargo para acomodar Pazuello. Entre as possibilidades, está o de secretário de Assuntos Estratégicos (SAE), hoje ocupado pelo almirante Flávio Rocha, que acumula a função com a de secretário especial de Comunicação Social. Também fala-se em entregar a ele um posto de assessor especial do presidente.
No jantar com deputados, Queiroga acenou que quer manter diálogo frequente com o Legislativo. Indicou ainda que defenderá medidas de combate ao coronavírus, entre elas, uso de máscara e distanciamento social.
Em outro compromisso nas primeiras horas depois de anunciado como novo ministro, Queiroga também viajou ao Rio, na companhia de Pazuello. Ali, jantaram com o governador fluminense, Cláudio Castro, aliado de Bolsonaro. O encontro já estava agendado com Pazuello.
Na conversa, o governador reforçou pedido de ajuda ao Rio no enfrentamento da pandemia, fez um balanço sobre a situação no estado e agradeceu a Pazuello pelo trabalho feito junto ao Rio, mesmo sabendo das limitações impostas ao ministro, disseram fontes. Ontem, Queiroga e Pazuello teriam uma agenda de reuniões no Rio.
A aliados o novo ministro comentou que quer uma posse sem aglomeração - ainda não há data para a cerimônia.
A postura discreta de Queiroga agrada Bolsonaro. Essa percepção se consolidou já que o presidente marcou reunião com ele no domingo para fazer o convite, 24 horas antes, mas houve vazamento.