Valor Econômico, n.5212, 22/03/2021. Brasil, p.A8

 

Ministério libera uso imediato de estoque da segunda dose de vacinas

Murillo Camarotto

Andrea Jubé

22/03/2021

 

 

Pazuello diz que há garantia de segurança das entregas por parte dos fornecedores

O Ministério da Saúde autorizou ontem que os estoques de vacinas destinados à aplicação da segunda dose sejam usados imediatamente. A recomendação, segundo a pasta, vale também para os imunizantes que foram entregues no fim de semana - um total de 5 milhões de doses do Instituto Butantan e da AstraZeneca.

“A decisão do ministro Eduardo Pazuello levou em conta a previsão de entregas semanais do Butantan e da Fiocruz, que aceleraram a produção a partir da chegada de matéria-prima (IFA) importada, garantindo assim a estabilização das distribuições aos Estados por parte do ministério”, informou a pasta, em nota.

A medida já vinha sendo estudada há cerca de duas semanas e foi atendida após garantia da segurança das entregas por parte dos fornecedores. “Com a liberação para aplicação de imediato de todo o estoque de vacinas guardadas nas secretarias municipais, vamos conseguir dobrar a aplicação nesta semana, imunizando uma grande quantidade da população brasileira, salvando e protegendo mais vidas” afirmou Pazuello.

Até o momento, 5,58% da população recebeu a primeira dose da vacina, segundo levantamento do consórcio de veículos de imprensa. A segunda dose, por enquanto, chegou a 1,96% dos brasileiros.

A lentidão da vacinação contrasta com o avanço da doença pelo país. Pelo 23º dia seguido, houve recorde de mortes por covid-19 na média móvel: foram mais 2.255 óbitos confirmados na média dos últimos sete dias, de acordo com o consórcio.

O país se aproxima não só das 3 mil mortes diárias pela doença, como também está muito próximo de chegar aos 12 milhões de casos. Até ontem havia 11,996 milhões de registros confirmados de covid-19 desde o início da pandemia, em fevereiro de 2020.

O consórcio de veículos de imprensa é formado pelos jornais “O Globo”, “Extra”, “Folha de S.Paulo” e “O Estado de S. Paulo”, bem como os portais UOL e G1.

Os dados são apurados junto às secretarias de Saúde dos Estados e do Distrito Federal.

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País quer acelerar imunizante de consórcio global, mas índia pode ser novo entrave

Assis Moreira

22/03/2021

 

 

 

Itamaraty recorre à rede de embaixadas e consulados no mundo para obter “com máxima urgência” medicamentos do chamado “kit intubação”

O governo brasileiro deflagrou uma ação desesperadora na cena internacional para tentar obter mais vacinas e “kit intubação” o mais rapidamente possível, em meio ao maior colapso sanitário e hospitalar da história do país.

O Valor apurou que o governo acionou a Organização Mundial da Saude (OMS) com pedido para ser agilizada a entrega de vacinas adquiridas no âmbito do Covax, diante da gravidade da situação. O Brasil é epicentro mundial da covid-19, com número crescente de mortes e novas infecções

Pela programado, um lote de 1,02 milhão de doses da vacina AstraZeneca, comprada via Covax, chegou ao país ontem. O plano é de 2,9 milhões de doses no total chegarem até o fim deste mês, aumentando para 9,1 milhões até maio.

Mas o governo brasileiro pediu agora para a OMS acelerar ao máximo a entrega das 42 milhões de doses encomendadas pelo país para imunizar 10% da população, pelo consórcio Covax. É um reconhecimento do enorme atraso da vacinação no país, também por escassez de doses. E novas variantes do vírus, mais transmissíveis e potencialmente mais agressivas, exigem vacinação mais rápida.

Ao mesmo tempo, porém, a imprensa indiana publicou que o Instituto Serum, maior produtor mundial de vacinas, teria informado Brasil, Arábia Saudita e Marrocos que “lamentavelmente” atrasará a entrega de novas doses da AstraZeneca a esses países.

Oficialmente, o argumento do Instituto Serum é de obstáculos na produção causados por um incêndio que ocorreu em suas instalações há algumas semanas. Mas jornais na Índia citam a irritação crescente no país com o chamado programa “vaccine maitri”, pelo qual o governo indiano vendeu ou doou mais vacinas para o exterior do que as inoculações realizadas no país.

Agora, um surto em Mumbai, segundo fontes, provoca o freio na Índia. E isso afetará tanto as encomendas feitas pelo Brasil, por exemplo, como as da própria Covax. Significa que o pedido brasileiro à OMS por agilização nas entregas de doses adquiridas via Covax pode ser comprometido.

No sábado, o Itamaraty anunciou outro movimento, de que pediu ao governo americano para viabilizar a importação pelo Brasil de vacinas anticovid do excedente disponível nos EUA. O anúncio ocorre depois que a Casa Branca confirmou que Washington planejava compartilhar 2,5 milhões de doses com o México e 1,5 milhão com o Canadá.

O Valor confirmou também que o Itamaraty mobilizou sua rede de embaixadas e consulados no mundo, visando obter “com máxima urgência” medicamentos do chamado “kit intubação”. A informação, publicada primeiro pelo UOL, é de que a mensagem do Itamaraty reconhece que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) fez consultas a suas contrapartes em vários países, mas não obteve sequer resposta para a aquisição de itens do kit intubação.

O Itamaraty pede para os diplomatas fazerem a busca de compra de medicamentos essenciais para inserir o tubo e manter a ventilação mecânica de pacientes mais graves do covid-19. Entre eles, besilato de atracúrio, midazolam, propofol e fentanila, confirmaram fontes com acesso ao telegrama.