Valor Econômico, n.5214, 24/03/2021. Política, p.A8

 

Bolsonaro recebe chefes de Poderes por ‘união nacional’

Matheus Schuch

Fabio Murakawa

24/03/2021

 

 

 

 

Presidente chama apenas ‘governadores amigos’ para reunião

 O presidente Jair Bolsonaro convidou governadores das cinco regiões para uma reunião com presidentes dos demais Poderes hoje no Palácio da Alvorada. Porém, embora o propósito anunciado pela Presidência para o encontro seja “fortalecer o ambiente de união nacional para prevenção e combate ao vírus da covid-19”, foram chamados apenas “governadores amigos”, que já possuem alguma afinidade com o Planalto. 

Segundo apurou o Valor, os governadores convidados são: Ratinho Júnior (PSD), do Paraná; Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais; Cláudio Castro (PSC), do Rio; Ronaldo Caiado (DEM), de Goiás; Renan Calheiros Filho (MDB), de Alagoas; Wilson Lima (PSC), Amazonas; e coronel Marcos Rocha (PSL), Rondônia.

O encontro ocorre no dia seguinte à oficialização de Marcelo Queiroga como ministro da Saúde, no lugar de Eduardo Pazuello.

Na lista, apenas Renan Filho (MDB) é de um grupo político não bolsonarista. Seu pai, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), é um aliado próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Porém, ele mantém boas relações com Bolsonaro e em dezembro esteve no Planalto para a posse do ministro do Turismo, Gilson Machado. Ele ficou durante toda a solenidade no palco, ao lado de Bolsonaro.

Presidente do Consórcio Nordeste, que representa os nove governadores dos nove Estados da Região, o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), não consta na lista de convidados à qual o Valor teve acesso.

Mais cedo, o Palácio do Planalto divulgou nota informando que foram convidados para a reunião os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-RJ), da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, além do procurador-geral da República, Augusto Aras.

Também estão previstas as participações dos ministros André Mendonça (Justiça), Fernando Azevedo (Defesa), Marcelo Queiroga (Saúde), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), e José Levi (Advocacia-Geral da União). Pazuello também estará presente.

Fontes próximas ao ministro afirmam que ele fará no encontro um balanço de sua gestão e mostrará aos presentes o status atual da pandemia, com dados sobre vacinação, insumos hospitalares, ocupação de leitos, entre outros. A equipe de Pazuello preparava essa apresentação na tarde de ontem.

Pazuello esperava participar do encontro na condição de ministro. Inicialmente, a reunião estava prevista para ontem. Porém, foi adiada.

O chamado ao diálogo com os demais Poderes ocorre em um momento de forte pressão sobre Bolsonaro. O presidente é alvo de críticas pela condução que deu à pandemia. Ele já fez três trocas de ministros da Saúde desde o ano passado, fez propaganda de remédios que comprovadamente não combatem a doença, como a hidroxicloroquina e ironizou as vacinas ao longo do último ano, com comentários jocosos.

Além disso, o presidente vem criticando as medidas restritivas impostas por governadores para tentar conter o alastramento do vírus, comparando-as com a figura de estado de sítio.