Valor Econômico, n. 5206, v.21, 12/03/2021. Brasil, p.A8

 

 

Imunização lenta custa milhares de vidas, dizem estudos

 

Sem vacinação nenhuma, país poderia terminar o ano com 353 mil mortes, estimam cientistas

Por Ana Conceição — De São Paulo

 

 

Dois estudos publicados na plataforma medRxiv, ainda sem revisão por pares, apontam como a demora na vacinação contra a covid-19 no país pode custar dezenas de milhares de vidas.

 

Um dos artigos, em que o autor principal é o professor Eduardo Massad, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), estimou que cerca de 127 mil vidas seriam poupadas até o fim de 2021 se uma vacinação em massa - 2 milhões de doses por dia - tivesse se iniciado em 21 de janeiro, segundo informações da Agência Fapesp.

 

O país tem vacinado cerca de 200 mil pessoas ao dia por falta de imunizantes, já que, em ocasiões anteriores, o SUS demonstrou capacidade de vacinar grande contingentes de pessoas em pouco tempo. Se a marca de 2 milhões de pessoas diárias fosse alcançada em 21 de março, seriam salvas 54,5 mil pessoas. A expectativa de Massad é que a vacinação em massa ocorra apenas a partir de agosto.

 

O estudo foi feito com base nas tendências da taxa de transmissão e número diário de novos casos observados em dezembro de 2020. Se nenhum esforço de vacinação fosse feito em 2021, o Brasil teria ao fim do ano 352,9 mil vítimas fatais da covid-19, calculam os pesquisadores. Mas a chegada da nova variante brasileira do coronavírus elevou a transmissão e os novos casos e, hoje, o número de mortos está em quase 280 mil.

 

O segundo estudo sobre o tema foi conduzido por Thomas Vilches, pós-doutorando no Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica da Unicamp, e teve a colaboração de pesquisadores da Unesp em Botucatu. Também por modelagem matemática, o grupo projetou 18 cenários relacionados ao impacto da campanha de vacinação no número de internações e mortes por covid-19 em São Paulo.

 

Entre as variáveis estão a vacina utilizada (Coronavac e Covidshield) e o grau de proteção de cada uma contra sintomas severos, velocidade da distribuição das doses (de 630 mil a 1,2 milhão ao dia), taxa de transmissão do vírus de 1,04 e o quanto as pessoas vacinadas respeitam o isolamento.

 

No melhor cenário do grau de proteção das vacinas, seria possível reduzir em 45,3% o número de mortes no atual pico epidêmico, com a Coronavac e 57% com a Covidshield com a distribuição de 630 mil doses diárias. Dobrando a distribuição, esses percentuais subiriam para 65,7% e 74%, respectivamente. No pior cenário, a Coronavac poderia reduzir em 30% as mortes, e a Covidshield, em 46,8%.