Valor Econômico, n. 5206, v.21, 12/03/2021. Política, p.A12

 

 

 

Campos Neto é visto no Palácio como mais influente que Guedes

 

Pessoas ligadas ao presidente do BC garantem que ele não almeja o Ministério da Economia

Por Fabio Murakawa, Lu Aiko Otta, Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto — De Brasília

 

Pragmático,, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto é hoje um dos principais conselheiros do presidente Jair Bolsonaro, ao lado do almirante Flávio Rocha e do ministro das Comunicações, Fábio Faria, informam fontes palacianas. Segundo interlocutores, Bolsonaro vê Campos Neto como uma pessoa menos ideológica do que o ministro da Economia, Paulo Guedes.

 

“Guedes é do tipo que diz ‘não faça isso de jeito nenhum’ ou ‘não concordo absolutamente’. Já Campos Neto é o cara que diz ‘olha, melhor não fazer isso agora, esperar um pouco mais’”, compara uma fonte palaciana.

 

Embora seja visto como mais influente do que Guedes, pessoas que mantêm contato com Campos Neto dentro do Planalto afirmam que ele não almeja nem trabalha para ocupar o posto do ministro.

 

Afirmam que Campos Neto consideraria uma “traição” tentar derrubar Guedes, de quem se considera próximo.

 

Nesta semana, Campos Neto participou ativamente de articulações na Câmara para aprovar a proposta de emenda à Constituição (PEC) emergencial. Foi visto também numa reunião de Bolsonaro para tratar da compra de vacinas da Pfizer. Duas atividades nada típicas de um presidente de Banco Central.

 

Na terça-feira, preocupado com os rumos da PEC, Campos Neto telefonou para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Reunido com líderes de outros partidos, Lira o convidou para sua residência. Pouco tempo depois, o presidente do Banco Central estava explicando aos deputados como o descontrole dos gastos afeta o dólar, os juros e a inflação.

 

Apesar de falar para todos os líderes, Campos Neto buscou sensibilizar o relator da proposta, deputado Daniel Freitas (PSL-SC), e o líder do PSL na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL). A intenção era convencê-los a falar com a base do governo e com o próprio Bolsonaro que permitir a promoção de policiais poderia ser um risco para uma desidratação muito grande da PEC.

 

Durante o encontro, Vitor Hugo disse que estava defendendo a proposta por se tratar de uma demanda pessoal de Bolsonaro. Apesar dos esforços de Campos Neto e da equipe econômica, as promoções deverão ser preservadas para todo o funcionalismo.

 

A atuação do presidente do BC em favor da PEC é vista no Ministério da Economia como um reforço natural. Campos Neto foi ao Congresso para atuar num elemento que vinha pressionando a cotação do dólar, avaliou um interlocutor de Guedes. Os sinais de descontrole fiscal estavam obrigando o Banco Central a despejar dólares no mercado.

 

A influência do presidente do BC é notada em outras áreas. Segundo fontes, foi Campos Neto quem conseguiu convencer Bolsonaro a segurar no cargo o presidente do Banco do Brasil, André Brandão, em janeiro. O presidente estava decidido a demiti-lo, depois que o banco passou por uma restruturação que previa o fechamento de diversas agências pelo país.

 

Bolsonaro ainda não demitiu Brandão e há hoje no Planalto quem acredite que isso não acontecerá. Porém, para outras fontes do governo, o presidente do BB ainda balança no cargo.