Título: Novas relações ajudam a burlar isolamento
Autor: Gombata, Marsílea
Fonte: Jornal do Brasil, 27/12/2008, Internacional, p. A33
Além de galgar influência permanente na região, o Irã vem utilizando as relações com a América Latina para burlar o isolamento imposto ao país tido como parte do "eixo do mal" pelos órgãos de Inteligência do governo dos EUA.
Na semana passada, o jornal italiano La Stampa sugeria que Teerã estaria utilizando vôos comerciais da aérea venezuelana Conviasa, na rota Teerã-Damasco-Caracas, para transportar tecnologia militar, como computadores e peças de máquinas para o desenvolvimento de veículos e construção de mísseis.
Em troca das aeronaves e da operação para se esquivar das sanções impostas pelas Nações Unidas para limitar a expansão de seu programa nuclear, Teerã estaria disponibilizando membros de sua guarda revolucionária para treinar a polícia e o serviço secreto de Caracas.
¿ Uma das vantagens para o Irã obter mais aliados na América Latina seria EUA e União Européia terem mais dificuldade de isolá-lo no Conselho de Segurança e na Assembléia Geral da ONU ¿ analisa Tom Barry. ¿ Futuramente, seria possível que essas relações facilitassem a entrada na região de terroristas anti-EUA e anti-Israel, dada a conexão iraniana com milícias como Hezbollah.
Politicamente, observa Farideh Farhi, o aprimoramento das relações com a América Latina indica que o Irã não é um país isolado como querem os EUA. O apoio ao programa nuclear, lembra, veio do presidente equatoriano, de Chávez e até mesmo de Lula.
A estratégia iraniana na região não é vista como concorrente, mas sim complementar à da Rússia ¿ marcada pelo recente giro do presidente russo, Dmitri Medvedev, pelo Peru, Brasil, Venezuela e Cuba. Enquanto a diplomacia russa oferece apoio tecnológico, econômico e comercial, o Irã teria um mercado extenso, que importa anualmente US$ 61,3 bilhões, disposto a consumir, dada à economia recheada de divisas.
¿ Ambos, abundantes em petrodólares, têm usado sua riqueza para fortificar alianças tanto com as nações ricas em petróleo quanto as carentes de recursos naturais ¿ observa Barry. ¿ Irã e Rússia estão interessados em assegurar que a China não ocupe o espaço político e econômico deixado pelos EUA. Se quiser diferente, o governo Obama tem de agir rapidamente e com cautela para formular uma nova relação com a América Latina.
A aproximação com Moscou e Teerã, acredita Carlos Pereyra Mele, representa um momento especial para a América do Sul, para que possa se concretizar como novo jogador mundial com peso próprio.
¿ A nova ordem mundial tende à criação de espaços continentais e econômicos autoconcentrados ¿ observa. ¿ Isso desperta preocupação com os grupos tradicionais de poder, que vêm sua influência em perigo. Hoje já vislumbramos alianças da China com Rússia num novo sistema internacional. A frente da China, Coréia do Sul e Japão contra a crise confirmam a análise.