Título: Ipea diz que país precisa crescer 4%
Autor: Totinick, Ludmilla
Fonte: Jornal do Brasil, 21/01/2009, Economia, p. A21

Estudo mostra que, mesmo no cenário mais otimista, seriam 154 mil desempregados

Ludmilla Totinick

Depois do anúncio da perda de mais de 654 mil postos de trabalho em dezembro, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou ontem estudo no qual mostra que, mesmo na melhor das previsões, com crescimento de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) ­ quando seriam gerados 1,3 milhão de empregos ­ ainda ficariam desempregados 154 mil pessoas. No documento, o Ipea simulou três cenários para o crescimento do PIB brasileiro em 2009: 1%, 2,5% e 4%. ­

Os três valores foram atribuídos arbitrariamente, já que não existem parâmetros precisos para aferir o grau de contaminação da economia brasileira com a crise internacional, mas os números são compatíveis com as transformações recentes na economia ­ informou o Ipea. Com um crescimento de 1% do PIB neste ano, seriam gerados 320 mil novos postos de trabalho. A previsão, porém, é que novos 1,4 milhão de trabalhadores entrem no mercado em 2009, o que adicionaria ao total de desempregados 1,126 milhão de pessoas.

Empregos

Na simulação de crescimento de 2,5%, seriam criados novos 800 mil empregos, ainda assim deixariam de fora do mercado 806 mil trabalhadores. Mesmo na melhor das previsões, com o crescimento de 4% ­ quando seriam gerados 1,3 milhão de empregos ­ ainda ficariam desempregados 154 mil pessoas. ­ Crescer 4% não será suficiente para combater o desemprego. Quando o Brasil vai crescer em 2009, é determinante para saber se o Brasil vai manter a sua trajetória positiva dos últimos anos ­ afirmou o presidente do Ipea, Márcio Pochmann. Pelas simulações, a taxa de desemprego em 2009 ficaria entre 7,7% e 8,6%. Em 2008, deverá ficar em 7,6%.

Pochmann também afirmou que o Brasil deve reduzir drasticamente a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic. Para o presidente do Ipea, a taxa de juros atual, de 13,75%, está relacionada à conjuntura do país antes da crise, mas é inadequada a um cenário de crise. ­ Quanto mais nós pudermos reduzir os juros, estimularemos mais o enfrentamento da crise em novas bases positivas para a população. Nós não temos número cabalístico, mas achamos que a redução drástica dos juros implica justamente aproveitar a oportunidade para reduzir quatro, cinco pontos percentuais ­ defendeu. Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, avalia como o mais difícil acertar a previsão correta de crescimento do PIB para este ano. Acredita, porém, que não deve ficar abaixo de 2%.

Indústria

O economista ressalta ainda que o governo pode estimular a criação de novos empregos, mas não faz milagres. ­ É possível minimizar os efeitos da crise, mas o principal neste momento é reduzir os juros ­ diz. Silveira identifica o corte da taxa básica de juros como medida fundamental para o andamento da atividade econômica do país. Sugere que seja realizada o mais rápido possível para que chegue a 11% até o fim do ano. Atualmente, a Selic é de 13,75%. A indústria brasileira registrou forte desaceleração em novembro, de acordo com dados da pesquisa mensal do setor realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

De acordo com a CNI, o faturamento e o emprego registraram a maior queda da série histórica da confederação, iniciada em 2003. O faturamento da indústria brasileira caiu 9,9% entre outubro e novembro, descontada a influência sazonal do período. Sem ajuste, o recuo foi de 13%. Na comparação com novembro do ano passado, a queda foi de 7%. O uso da capacidade instalada da indústria recuou de 82,6% em outubro para 81,6% em novembro (com ajuste sazonal).